Denúncias revelaram abandono de equipamentos no Hospital Júlia Kubitschek, na Região do Barreiro, em Belo Horizonte. A Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher fiscalizou o local nesta quarta-feira (25/5) e constatou outras irregularidades na unidade da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig).
De acordo com a diretora-executiva do sindicato dos servidores da saúde (Sind-saúde), Neuza Freitas, vários equipamentos novos estavam escondidos em uma ala abandonada há pelo menos 12 anos.
“Existem duas alas desativadas desde 2010, segundo eles para reforma, e uma delas estava trancada. Nós pedimos abertura para termos acesso e foram verificados diversos equipamentos, como carrinho de parada, carrinho de anestesia, respiradores, camas novas, camas elétricas, camas já sucateadas, até mesmo câmara fria”, relatou.
Além disso, ela também aponta que muitos desses equipamentos são novos e foram adquiridos para o hospital de campanha, criado em 2020 para comportar toda a população contaminada com a COVID-19.
“Muita coisa nova já está deteriorando, inclusive o elevador que foi comprado estava encaixotado e escondido lá dentro. Para a surpresa de todos, foi relatado pela própria gestão, que os equipamentos comprados para o hospital de campanha para a pandemia estão todos escondidos aqui nesta enfermaria”, frisou Neuza.
Emergência
Outro ponto constatado na visita foi de que a ala de emergência do hospital está em desuso, mesmo com a sobrecarga no atendimento de outras unidades de atendimento hospitalar na região do Barreiro. Em abril, a Fhemig anunciou que seriam abertos 30 leitos no hospital para desafogar o atendimento das UPAs.
A deputada Ana Paula Siqueira (Rede), autora do requerimento da visita, comentou as irregularidades encontradas. “Viemos fazer a visita para verificar a denúncia de fechamento dos setores de urgência e emergência do hospital. De fato, identificamos que esses serviços não estão funcionando plenamente, não tem atendimento pronto, a população não está sendo atendida aqui no sistema porta aberta”, apontou.
“Há deficiências, como o coordenador nos informou, na ausência de quatro profissionais sem previsão para que sejam conduzidos ao atendimento na maternidade. Então de fato há esse problema do atendimento, o governo se comprometeu na audiência pública a reabrir os 30 leitos de emergência, mas não reabriu”, acrescentou a parlamentar.
Ela ainda destacou que houve a tentativa de esconder a situação de desuso da ala pouco tempo antes da visita. “Nós encontramos uma tentativa de maquiagem do governo em relação ao setor de emergência. Identificamos três famílias que foram transferidas há cerca de 40 minutos antes de chegarmos, numa tentativa de demonstrar que essa ala, inclusive muito bem equipada, estivesse funcionando”.
Ana Paula criticou a atitude. “Os familiares nos registraram que não sabiam o motivo de suas transferências, são pessoas que estão no hospital há mais de uma semana aguardando exames médicos sem nenhum sinal de emergência. Isso é brincar com a dignidade humana, desrespeitar não só as famílias como toda população que quer e precisa do serviço de urgência e emergência restabelecido”.
Em resposta ao Estado de Minas, a Fhemig apontou que a emergência do hospital já recebe casos como retaguarda das UPAs. Enquanto os equipamentos serão destinados para outros setores e leilão. Confira a nota na íntegra:
"Sobre os questionamentos apresentados acerca do Hospital Júlia Kubitschek (HJK), a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) tem a informar que foram abertos, neste mês, 30 leitos de enfermaria na Unidade de Urgência do HJK, que já recebem casos referenciados pela Central de Leitos, como retaguarda para as UPA’s. O atendimento de urgência na Maternidade nunca foi suspenso durante a pandemia.
A respeito dos equipamentos citados, esclarecemos que são 6 camas guardadas na Ala F desde o final de março e que serão destinadas para a Unidade de Emergência e para o setor de Tomografia da unidade. Quanto aos demais equipamentos e mobiliários armazenados na unidade, na verdade são itens obsoletos que foram substituídos e aguardam destinação para leilão oficial."
UPA Barreiro
Enquanto isso, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Barreiro foi verificada a sobrecarga. “Encontramos um volume grande de pessoas aguardando atendimento, e o próprio gestor nos reportou que a partir do momento que a emergência e urgência do JK foi fechada, houve e existe uma real sobrecarga no atendimento da UPA Barreiro”, informou a deputada.
Um dos principais problemas averiguados na visita é a ausência de pediatras na UPA. Como consequência disso, famílias precisam aguardar mais de 12 horas por um atendimento ou encaminhamento. “Reforço que crianças são atendimento prioritário, segundo a legislação”, destaca Ana Paula.
Por fim, os deputados farão o relatório da visita e encaminharão requerimentos a serem respondidos por governo de Minas, prefeitura de Belo Horizonte e hospital Júlia Kubitschek. Além disso, o Ministério Público será acionado para verificar as denúncias.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, a UPA Barreiro está passando por uma alta demanda de atendimentos nos últimos dias. Foi informado também que está tomando as providências para recompor as equipes. Confira a nota na íntegra:
"A Secretaria Municipal de Saúde informa que nesta quarta, dia 25, a UPA Barreiro apresentou uma alta procura por atendimento, o que ocasionou um tempo maior de espera para pacientes classificados como verdes (não urgentes).
Nas últimas semanas as unidades de saúde têm apresentado uma procura maior por atendimento, principalmente para questões respiratórias, devido à sazonalidade desta época do ano, que apresenta temperaturas mais baixas.
Em maio, até o dia 14, as UPAs atenderam a 5.926 pacientes com doenças respiratórias, sendo que do dia 8 ao dia 14 de maio foram atendidos 3.270 pacientes, sendo 1.809 adultos e 1.461 crianças.
A SMSA monitora a situação e está tomando as providências necessárias para garantir plena assistência à população e trabalha ininterruptamente para recompor as equipes. Foi homologado no final de abril o concurso público da área da saúde. Na última semana, 35 médicos tomaram posse. Devido à maior demanda, foram priorizados pediatras. Pelo menos 8 pediatras atuarão nas UPAs, com previsão de início em até 10 dias."
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