A nova Caderneta da Gestante divulgada pelo Ministério da Saúde tem repercutido negativamente entre especialistas e parlamentares. A cartilha, utilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) como forma de informar às mães sobre pré-natal, parto, e primeiros meses de vida do bebê, trouxe orientações favoráveis à amamentação como método contraceptivo, cesárea eletiva e episiotomia (corte do períneo — região entre a vagina e o ânus — para aumentar o canal de saída da criança).
A manobra de Kristeller — que tem como objetivo acelerar o parto aplicando pressão externa ao útero da mulher — também entrou na cartilha. O secretário de Atenção à Saúde Primária do Ministério da Saúde, Raphael Câmara, defendeu a prática durante o evento de lançamento da caderneta. “Tem algumas coisas que dependendo da situação e em casos excepcionais podem e devem ser feitas e quem define isso é o médico, não são leigos, militantes, ativistas”, justificou.
Vale lembrar que o método foi banido pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e pela pasta brasileira da Saúde, já que implica em risco de ruptura uterina, fratura das costelas, dano ao esfíncter anal e traumatismo craniano no feto. É considerado, portanto, violência obstétrica, termo que foi alvo de críticas por parte de Câmara.
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Crítica de parlamentares
A deputada federal por São Paulo e líder da bancada do PSOL na Câmara, Sâmia Bomfim, disse em discurso na casa que o secretário deve explicações às mulheres brasileiras, e que as cartilhas têm de ser recolhidas. “Foi muito triste para todas nós que somos defensoras dos partos humanizados e respeitosos”, lamentou.
Para ela, as diretrizes são “perigosas” e trazem informações falsas, que colocam em risco a vida das mulheres. Bomfim destacou ainda que a episiotomia trata-se de mutilação genital. “Isso já foi superado há muitos anos, inclusive compreendido pela OMS e pelo Conselho Nacional de Medicina no Brasil. Essa cartilha tem que ser recolhida, porque está estimulando a violência obstétrica, sendo que a gente tem que ir na contramão disso”.
Profissionais da área da saúde, também expressaram opiniões contrarias as mudanças, consideradas negativas. “Depois de um retrocesso vergonhoso ao acabar com direito de gestar e parir com humanidade, a nova caderneta da gestante estampa a violência obstétrica combatida mundialmente. Vergonha de um país que tem caminhado contra a ciência e contra o que é mais sagrado: o direito de parir e nascer com dignidade!”, escreveu a enfermeira obstetra e presidente do SindEnfermeiro-DF, Dayse Amarílio, em uma rede social.
*Estagiária sob supervisão de Ronayre Nunes
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