Denúncia

PMs são acusados de invadir, furtar e depredar casa no Rio de Janeiro

Moradora do Jacarezinho filmou ação dos policiais e levou as imagens para a Defensoria Pública; no inquérito, ela conta que ficou impedida de voltar para a própria casa desde o início do programa Cidade Integrada

Jéssica Gotlib
postado em 02/05/2022 12:01 / atualizado em 02/05/2022 12:11
Moradora passou três meses fora de casa e colocou câmera de segurança para flagrar as invasões -  (crédito: TV Globo/Reprodução)
Moradora passou três meses fora de casa e colocou câmera de segurança para flagrar as invasões - (crédito: TV Globo/Reprodução)

Lâmpadas arrancadas, porta arrombada, eletrodomésticos desaparecidos e até fogão e botijão de gás que sumiram. Essa foi a cena que uma moradora do bairro Jacarezinho encontrou ao voltar para casa depois de três meses no Rio de Janeiro. Em denúncia feita por ela à Defensoria Pública do estado, Policiais Militares que participam do programa Cidade Integrada são acusados de invadir, ocupar, depredar e furtar a residência.

As acusações se tornaram públicas na noite de domingo (1°/5), depois de uma reportagem do programa Fantástico, da TV Globo. Segundo as informações do inquérito que foram divulgadas, a mulher ficou impedida de voltar para a própria casa por três meses. Eles entraram quando ela e a família passavam uns dias fora e passaram a tratar o local como base operacional.

“Os policias começaram a ‘mandar recado’, dizendo que era pra declarante não retornar pra casa porque eles precisavam de um lugar pra ficar durante o serviço”, diz um trecho da investigação do Ministério Público. De acordo com o relato, a dona da casa aproveitava momentos em que os PMs não estavam para ir até o local verificar a situação. Ela começou a notar o sumiço de coisas pequenas, como bijuterias e perfumes, logo, não havia mais nada do que a família deixou no imóvel.

Câmera de segurança registrou invasão de pessoas fardadas

A mulher, então, colocou uma câmera na casa para flagrar a ação dos policiais. As imagens são nítidas. Dois homens chegam, uniformizados e armados, entram no imóvel e falam sobre ligar o ar condicionado. Quando um deles percebe que está sendo filmado, abaixa a câmera e o vídeo acaba. A filmagem data de 20 de março de 2022, mas a família só pode retornar um mês depois, no dia 20 de abril, depois que o MP do Rio conseguiu a garantia de que eles não sofreriam represálias.

Em entrevista ao Fantástico, o advogado Joel Luiz Costa, coordenador do Instituto de Defesa da População Negra, conta que há uma pesquisa em andamento do Observatório da Cidade Integrada. Até o momento, já foram ouvidas 134 pessoas que moram no Jacarezinho, conta o advogado. Segundo ele, 61 delas tiveram casas violadas, a própria ou a de um parente próximo. Outras 29 pessoas sabem de casos de violação de residências na vizinhança, explicou.

O que dizem as autoridades sobre a ocupação dos PMs no Jacarezinho

A coordenação do programa Cidade Integrada divulgou nota afirmando que os policiais usam as bases das antigas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em Jacarezinho e Manguinhos. A PM também informou, em comunicado oficial, que a corregedoria da corporação investiga essa e outras 30 denúncias de moradores sobre a invasão de PMs a domicílios na região.

Na manhã desta segunda-feira (2/5), governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), deu entrevista à Super Rádio Tupi em que defendeu as instituições de correição da PM e pediu desculpas à família do caso divulgado pela Globo. “Como chefe do poder executivo, eu quero me desculpar com aquela família. Aquilo não tem justificativa. Não há instituição que mais puna que a Polícia Militar”, declarou.

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