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Escolas de samba voltam à avenida após dois anos de pandemia

Rio e São Paulo terão desfiles de escola de samba, mas outras capitais nem sequer anunciaram data para dar início à festa

O brasileiro aproveitou o feriado prolongado de Tiradentes e decidiu que este ano vai ter, sim, carnaval. Mesmo com semanas de atraso da data tradicional, a folia começou na noite de ontem, com desfiles das escolas da Série Ouro no Rio de Janeiro. Hoje, a Marquês de Sapucaí continua com o segundo dia das exibições. O Grupo Especial começa a se apresentar amanhã. Em São Paulo, no Sambódromo do Anhembi, também haverá desfiles.

A Série Ouro é uma categoria exclusiva do carnaval carioca e substitui o antigo "grupo A". Reúne as agremiações que não obtiveram bom desempenho nos desfiles dos últimos anos, mas tentam retornar ao Grupo Especial. Nestes dois dias, 14 escolas se apresentarão, entre elas Porto da Pedra, que se apresentou ontem, Unidos de Padre Miguel, Estácio de Sá e Império Serrano.

Longe das passarelas, os tradicionais blocos de rua, tanto no Rio quanto em São Paulo, estão sem autorização oficial para cair na folia. Na capital carioca, apesar da pressão dos foliões, a prefeitura resistia em liberar a festa nas ruas. Em São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes deu aval às manifestações populares, mas não houve tempo hábil para preparar a infraestrutura da festa.

Apesar dos esforços, a expectativa para o reinado de Momo é modesta. Dados da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis mostram que a ocupação da rede de hotéis no Rio ultrapassou os 78%, entre quarta-feira (20) e domingo (24). A capital paulista, no entanto, registrou apenas 40% de reservas no mesmo período. Já as acomodações no interior paulista atingiram 80%. Nas redes sociais, a palavra carnaval não chegou aos assuntos mais comentados da semana.

No calendário momesco fora de época, o tom é a desmobilização. Salvador e Belo Horizonte não decretaram data oficial para a festa. No Recife, a folia aconteceu no feriado da semana passada. Se as ruas tendem a ficar vazias, é provável que a animação se concentre em blocos fechados. Em Salvador, alguns ingressos podem ser comprados a partir de R$ 200.

pacifico - carnaval mapa brasil

Contra o racismo

Tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, as escolas de samba prometem conquistar o público com temas de forte apelo social. Algumas tratarão de racismo, machismo, violência. A Salgueiro, por exemplo, vem com o enredo Resistência, retratará locais importantes da cultura negra no Rio de Janeiro. A São Clemente homenageia o ator e humorista Paulo Gustavo, morto de covid-19 no ano passado. A Beija-Flor bradará Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor, com a proposta de abordar a luta contra o racismo. A Unidos da Tijuca, com Waranã — A Reexistência Vermelha, abordará a lenda do guaraná.

Milton Barbosa, vice-presidente sociocultural da Unidos da Tijuca, afirmou que a troca de data extenuou os integrantes da escola. "A coisa é estruturada para ser feita em quatro meses, passou para seis e não pode parar. Estávamos em uma sequência de ensaios, se desativasse, iria parar. Mas ontem tivemos na avenida, com o diretor do carnaval, para explicar onde iriam ficar os jurados. Tinha muita gente e o pessoal ficou muito animado. Já nos deu um levante", afirmou.

Luis Carlos Magalhães, presidente da Portela, conta a importância de valorizar a cultura negra. O enredo da escola é Igi Osè Baobá, que mostrará a simbologia dos baobás, árvores gigantescas e milenares originárias da África. "As escolas de samba são a única manifestação cultural brasileira que preserva e defende a cultura negra", define.