Os três primeiros anos de gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL) concentraram 5.725 confrontos no campo. Os números são os maiores registrados desde o início da série histórica, em 1985, e estão no levantamento Conflitos no Campo, Brasil 2021, da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Segundo o levantamento, divulgado nesta segunda-feira (18/4), Rondônia foi o estado com o maior número de assassinatos, registrando 11 mortes, em 2021, e um massacre, ocorrido em terras indígenas ianomâmi. O estado do Maranhão vem em seguida, com nove assassinatos, depois Roraima, Tocantins e Rio Grande do Sul, cada um com 3 assassinatos. As vítimas foram: 10 indígenas, nove sem-terras, seis posseiros, três quilombolas, dois assentados, dois pequenos proprietários, duas quebradeiras de coco babaçu e um aliado.
O estudo mostra ainda que o número de sem-terras assassinados aumentou 350% de 2020 para 2021, passando de dois para nove no ano. As mortes em consequência do conflito no campo saltaram de nove, no ano anterior, para 109, em 2021, representando um aumento de 1.110%.
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Papel da Igreja
Dom Joel Portella, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), aponta que o levantamento deve ser visto por dois aspectos: sobre o papel da Igreja em catalogar os dados e o outro sobre a divulgação dos estudos.
“É um trabalho de longa data que a Igreja desenvolve junto a esse grande desafio da (posse de) terra no Brasil, que tristemente não se resolve e que vemos crescer a cada dia, a cada instante com poucas soluções. Mudam os contextos, mas a triste realidade contínua, e quem está na linha de frente dessa realidade não só permanece mas se enrijece. Se torna não só sofrida, mas assassina. Mas em meio a tudo isso, o compromisso permanece. (...) É um serviço longo, muita coisa já foi produzida, inúmeros documentos e denúncias, de longa data e que precisam continuar”, afirmou.
O segundo aspecto, relacionado a difundir as informações, é considerado por Dom Joel uma condição para “a paz social”. “É indispensável ter dados objetivos e não temer dialogar sobre eles. Assim como a terra, a verdade é condição de democracia. Um país que teme a verdade, não pode ser chamado de democrata, um povo tem que se comprometer com a justiça social em relação à terra, igualmente compromisso com a verdade”, afirmou. O religioso ressaltou também ser preciso ter “a mesma firmeza para não deixar que a mentira e a manipulação dos dados” venham contribuir para a morte de pessoas.
Bolsonaro e o armamento
Dom Joel ainda lembrou das palavras do Papa Francisco e da Igreja sobre a importância de se ter “terra, teto e trabalho”. “Nós sabemos o quanto esse problema da terra é um desafio no mundo inteiro. Recordo aqui dos irmãos da Ucrânia, expulsos de maneira violenta de sua terra. É preciso destacar a importância e urgência do tema da terra”, pontuou.
No último dia 8, o presidente Bolsonaro voltou a defender o armamento por parte da população. O chefe do Executivo disse, sem especificar sobre qual situação se referia, que “povo armado jamais será escravizado” e que “reagirá a qualquer ditador de plantão que queira roubar a liberdade do seu povo”.
O chefe do Executivo também empoderou o armamento no campo em outras ocasiões, chegando a dizer que o Movimento Sem Terra (MTS) tem medo de chegar próximo às propriedades. “Fazendeiros podem proteger suas terras”, disse em vários momentos.