Centenas de indígenas e ativistas marcharam, ontem, até o Ministério de Minas e Energia para realizar o ato político Ouro de Sangue, em protesto pelo aumento da presença de garimpeiros nos territórios indígenas. A concentração foi no Acampamento Terra Livre (ATL), erguido no estacionamento da Funarte desde o último dia 4.
O pano de fundo da manifestação é o Projeto de Lei 191/2020, que tramita no Congresso com o apoio do Palácio do Planalto. Pelo texto, a ideia é liberar a exploração do solo em terras indígenas para os chamados exploradores artesanais. Contudo, os nativos alegam que a porta estará aberta para a exploração em escala industrial.
"Se aprovado, o projeto, que transforma em regra o que a Constituição de 1988 estabeleceu como exceção, levará ao aumento do desmatamento, ao aumento das invasões de terras indígenas e potencialização da violência contra os povos", destaca nota divulgada pela Associação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
Entre os manifestantes, o indígena Ibirassu Fulniô Karajá, da aldeia Hawaló (TO), manifestou profunda preocupação com a possibilidade de avanço do PL 191/20. "Isso não vai afetar só a gente, mas toda a população que está ao redor. Se isso for liberado, é o nosso fim. Já não temos direitos e, com isso, vai ficar ainda pior", alertou.
Doto Takak Ire, líder caiapó da terra indígena Menkragnoti (PA), reclamou da completa falta de diálogo com o governo. "Eles não consultaram ninguém e estamos lutando contra isso. Se o governo chamasse as lideranças de todos os povos, aí, sim, a gente ia estudar e ver os procedimentos para garantir o nosso direito de viver na floresta", observou.
No ministério, os manifestantes, que também contaram com o apoio de ativistas da causa indígena, reuniram caixas simulando barras de ouro, nas quais se lia "Ouro ilegal é crime". Também derramaram lama e tinta vermelha simbolizando o sangue derramado na terra. (CN e MEC)