Estudo divulgado nesta quarta-feira (6/4) pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap) e pelo Instituto Millenium revela que a qualidade dos professores pode afetar a vida profissional dos estudantes. A estimativa é de que se um aluno que tem aula com os 10% piores docentes passasse aprender com os de desempenho médio, a sua renda seria 8% maior (R$ 34,4 mil) ao longo de seu período trabalhando.
A análise intitulada Grandes Mestres Fazem Grandes Diferenças? — Valorizando a contribuição do Professor para o desempenho do Aluno da Educação Básica, aponta que mensurar a qualidade dos professores e estimar seu impacto é um importante passo no estímulo de práticas pedagógicas e de gestão educacional.
Igualdade salarial
Diana Coutinho e Cláudio D. Shikida (ambos da Escola Nacional de Administração Pública), defendem que o sistema em que professores com diferentes níveis de formação e comprometimento são tratados igualmente em termos salariais, não é um exemplo de sucesso.
“Será que a qualidade dos professores é realmente similar a ponto de os salários entre eles serem tão parecidos? O estudo nos mostra que não, e também sinaliza que precisamos reconhecer e valorizar os melhores professores, inclusive financeiramente”, afirmou Coutinho, diretora de Altos Estudos da Enap.
O estudo indica que existe a necessidade de repensar a contribuição do professor no desempenho de seus alunos por meio de políticas baseadas no chamado valor adicionado do professor (VAP) — um tipo de gratificação por desempenho profissional. A qualidade dos docentes seria definida a partir de critérios de experiência, idade, e formação, por exemplo.
Um dos possíveis obstáculos para a adoção das medidas é a resistência apresentada por sindicatos a processos seletivos conduzidos com maior minúcia. O quadro foi observado em uma pesquisa usada como referência para o estudo, que avaliou Parcerias Público-Privadas (PPP) no Rio de Janeiro.
Porém, na visão de Diana Coutinho, a dificuldade de diálogo nesse sentido não é exclusividade da categoria. “Ninguém gosta muito de ser avaliado, não é uma questão exclusiva dos professores. Na minha experiência, o que acontece é que os momentos de avaliação são sempre de tensão para as pessoas”, argumentou.
Longo prazo
Os autores da análise preveem que, se adotado, o novo modelo teria desdobramentos a longo prazo. Isso porque o processo envolve a aplicação de metodologias e avaliação dos seus impactos, além do tempo que essas etapas demandariam. Segundo Coutinho, a partir da decisão de implantar o VAP, seria necessário criar um “plano de desenvolvimento do professor” — que pode ir desde uma formação profissional até um período de mentoria.
A especialista alerta que caso siga como está, o ensino brasileiro vai ficar estagnado, assombrado pela piora enfrentada na pandemia de covid-19. “A gente andava evoluindo muito devagar. Tivemos escolas fechadas por dois anos e com grande impacto sobre a evasão escolar, a gente deve observar uma piora nos nossos níveis”.
Cláudio D. Shikida complementou: “As coisas precisam mudar, do jeito que está não dá para ficar. A gente está levantando essa bola”. “Acho que sempre é possível melhorar o que já existe. Quando você aplica uma metodologia científica para avaliar qualquer problema que seja, você pode fazer isso de uma maneira melhor, ou desleixada. Melhorar não significa que vai ficar 100%, mas tentar diminuir a quantidade de imprecisão que existe”, finalizou.
*Estagiária sob supervisão de