Soou, mais uma vez, o alerta contra o desmatamento no Brasil. O monitoramento do Global Forest Watch (GFW), mostra que, no ano passado, 1,5 milhão de hectares de florestas tropicais foram derrubadas no país. A área destruída equivale a aproximadamente 15 mil quilômetros quadrados. A plataforma divulgou, ontem, que o Brasil responde por 40% da extinção de florestas no mundo. Com esses números, o país lidera o ranking mundial de perda de florestas.
"Todos os sistemas que monitoram as florestas vinham assinalando que a curva ascendente da evolução do desmatamento ainda não havia sido reduzida no Brasil. Mas a questão é que, na comparação global, a coisa fica mais alarmante. Isso mostra, principalmente, que ainda não se conseguiu reverter o modelo de que a floresta é mais importante derrubada, para se ter outros recursos, do que de pé, que também pode gerar riquezas", explicou Fabíola Zerbini, diretora de Florestas, Agricultura e Uso do Solo do WRI Brasil.
No mundo, o total de hectares perdidos é de 3,75 milhões. Desde 2016, o Brasil tem mantido perdas acima de 1 milhão de hectares. Apesar do número atual ter diminuído desde o último relatório, a preocupação com o território brasileiro continua sendo pela quantidade de florestas que o país detém. Segundo o GFW, cerca de um terço das florestas tropicais primárias remanescentes do mundo estão aqui. "É especialmente preocupante, pois novas evidências revelam que a Floresta Amazônica está perdendo resiliência, estando mais perto de um ponto de inflexão do que se pensava anteriormente", observou Zerbini.
O relatório apontou as queimadas como uma das causas da devastação. Uma expansão relevante ocorreu do desmatamento no oeste da Amazônia, ao longo de estradas, como a BR-319, localizada no Norte do país, cortando de Manaus (AM) a Porto Velho (RO). Junto com isso, o aumento de áreas agrícolas foi de 9% entre 2020 e 2021.
André Guimarães, diretor-executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e membro da Coalizão do Clima, descreve o conjunto de fatores nocivos ao meio ambiente. "Hoje existem diversas formas que incentivam uma visão de curto prazo. Projetos de lei para promover garimpos e atividades em terras indígenas, desmonte de órgãos de fiscalização, por exemplo. O agronegócio tem sua responsabilidade também [no desmatamento], porque tem alguns que não respeitam o Código Florestal. Mas não são agricultores e pecuaristas, os maiores vilões do desmatamento na Amazônia. São principalmente os grileiros, pessoas que estão se apropriando de terras públicas, que estão à margem da lei", frisou.
Para ele, ainda, o monitoramento mostra que o Brasil caminha na contramão do mundo, ao mesmo tempo que monta uma armadilha contra a principal fonte econômica atual: o agronegócio. "Somos um país que tem uma forte economia dependente do agronegócio, mais de 27% do PIB está ligado a esse setor. Vale dizer que grande parte da agricultura brasileira não é irrigada, depende de ciclos naturais de chuva, e o desmatamento altera isso. Então, outra consequência do desmatamento é colocar em risco a agricultura, por conseguinte a economia", correlacionou.
"O mundo, hoje, está preocupado com o desmatamento, os nossos clientes estão alarmados com os índices de desmatamento por causa das mudanças climáticas. Esse resultado mostra que o Brasil está na contramão. Enquanto o mundo busca formas de reduzir as mudanças climáticas, essa seria a grande contribuição brasileira", completou.
Zerbini considera que o diagnóstico é um chamado para o enfrentamento. "O Brasil tem muito conhecimento, tem inteligência em torno de como reverter esse dado. Acredito que, mais uma vez à frente desse alarme, iniciativas devem ser fortalecidas", comentou.
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