Ao meio-dia e 10 minutos de sexta-feira (22/4), a pediatria do Hospital Municipal Souza Aguiar comunicou a morte de Raquel Antunes da Silva. A criança de 11 anos não resistiu aos ferimentos após ficar prensada entre um poste e um carro alegórico, da escola de samba Em Cima da Hora. O acidente aconteceu na noite de quarta-feira (20/4), durante a dispersão do desfile da Série Ouro, uma das categorias do carnaval carioca.
A Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), responsável pela organização dos desfiles da série, divulgou, em nota, que "a direção da Liesa está consternada e se solidariza com a família e amigos de Raquel". A entidade acrescentou que irá colaborar com as investigações sobre o caso. Até o fechamento desta edição, a escola de samba Em Cima da Hora não se manifestou oficialmente sobre o assunto.
A Liesa se posicionou após uma declaração controversa do presidente da Liga, Wallace Palhares. Logo após saber do acidente, na quinta-feira (21/4), ele opinou que "a Liga não tem que dar suporte à família porque ali é uma área fora do Sambódromo. O que acontece ali é cultural e precisa de polícia". Horas depois, voltou atrás e declarou que "o acidente foi uma fatalidade. A entidade está prestando todo o apoio para a família da criança, mesmo o acidente tendo acontecido em um espaço externo da Sapucaí".
De acordo com o Corpo de Bombeiros, apenas quatro das escolas que desfilaram na primeira noite da Sapucaí pediram a vistoria dos carros alegóricos. Os bombeiros informaram que enviaram notificação sobre a irregularidade três vezes, mas não tiveram respostas. A última tentativa foi na noite de quarta-feira (20). Palhares, entretanto, insistiu que todas as escolas têm autorização para desfilar. "Sem isso, elas não saem nem do barracão", afirmou.
A 6ª Delegacia de Polícia do Rio de Janeiro (Cidade Nova) investiga a morte de Raquel Antunes da Silva. A delegada titular, Maria Aparecida Salgado Mallet, determinou que o carro no qual o acidente ocorreu fosse apreendido para perícia. Profissionais do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) fotografaram e recolheram análises, ontem, para apurar as circunstâncias da tragédia. Além disso, a polícia deve colher o depoimento do presidente administrativo da escola de samba e de um auxiliar do motorista do reboque que puxava a alegoria.
O motorista José Crispim Silva Neto, coordenador de dispersão da Liesa, já foi ouvido na delegacia. No depoimento, obtido pelo jornal O Globo, ele confirmou ter escutado os gritos de que havia uma criança em cima do carro. De acordo com ele, o veículo estava devagar e logo parou, mas Raquel foi a única das quatro crianças que não conseguiu pular do caminhão. Crispim informou, ainda, que "é comum que diversas crianças esperem a passagem de carros alegóricos para subir e tirar fotos".
Após a tragédia, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) se manifestou. Encaminhou um pedido para a Justiça averiguar possíveis falhas de segurança. De acordo com o órgão, "houve violações de normas de segurança no dia do acidente". Segundo a 1ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva da Infância e da Juventude da Capital, "providências preventivas haviam sido determinadas pela Justiça da Infância e da Juventude com antecedência, inclusive mediante envio de ofícios, portaria do Juízo e recomendações do Ministério Público". O MP ressaltou, inclusive, a recomendação específica de oferecer segurança para crianças e adolescentes na concentração e dispersão de carros alegóricos.
Em atenção ao pedido do Ministério Público, a 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso da Capital determinou, na noite de quinta-feira, que todas as escolas de samba do Grupo de Acesso, Especial e Mirins façam a escolta dos carros alegóricos até os barracões. De acordo com o órgão, diversos riscos às crianças estavam evidentes no local, como ameaça à integridade física em razão de aglomeração ou de práticas delitivas; separação de seus respectivos responsáveis legais — e queda de carros alegóricos ou outros transtornos.
O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), lamentou o episódio. "A morte da pequena Raquel nos deixa um grande sentimento de tristeza. Vamos acompanhar de perto a investigação policial que apura as responsabilidades e estamos, através de nossa secretaria de Assistência, dando apoio aos familiares", escreveu em uma rede social.
Uma moradora de Cavalcanti, onde está localizada a escola de samba, e membro da Em Cima da Hora, disse ao Correio que a comunidade está mobilizada em ajudar a família nesse momento. "O condutor do carro e o presidente estão muito tristes. O presidente é muito voltado para a comunidade, a família [da vítima] é toda de lá. Ele acabou de perder o pai também e, na raça, colocou o carnaval na rua. O bairro está triste. Somos todos uma grande família", lamentou.
A mulher, que prefere não se identificar por medo de retaliações, afirmou que não quis participar dos festejos. Para ela, algo a afastou. Horas antes de a Em Cima da Hora desfilar na Sapucaí, a moradora escreveu em uma rede social um pedido aos céus: "Cuida da nossa escola".
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