Crime organizado

Doleira condenada na Lava-Jato é presa

Detida em Portugal, Nelma Kodama é suspeita de integrar quadrilha internacional de tráfico de drogas. Ex-secretário estadual também foi preso

Victor Correia
postado em 20/04/2022 00:01
 (crédito: Reprodução
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(crédito: Reprodução )

A Polícia Federal (PF) prendeu novamente a doleira Nelma Kodama, conhecida por ser a primeira delatora da Operação Lava-Jato após sua condenação em 2014. A prisão ocorreu ontem em um hotel de luxo em Portugal durante operação de combate ao narcotráfico internacional deflagrada pela PF. Kodama é suspeita de cuidar das movimentações financeiras de um grupo criminoso.

A Operação Descobrimento começou na manhã de ontem, com o objetivo de desarticular a organização, que atua no tráfico de cocaína entre Brasil e Portugal. Foram cumpridos 43 mandados de busca e apreensão e sete de prisão preventiva nos estados da Bahia (onde a operação teve início), São Paulo, Mato Grosso, Rondônia e Pernambuco.

Em Portugal, policiais federais brasileiros acompanharam a polícia local no cumprimento de dois mandados de prisão preventiva e três de busca e apreensão, nas cidades de Porto e Braga.

Nelma Kodama deve ser enviada de volta ao Brasil para ficar à disposição da Justiça Federal da Bahia. Em nota, a defesa da doleira afirmou que a prisão foi uma surpresa, que "confia na Justiça e espera, em breve, ter acesso aos autos para entender a motivação da prisão e se manifestar perante as autoridades competentes".

As investigações que levaram à prisão de Kodama tiveram início em 2021, quando um jatinho executivo pertencente a uma empresa portuguesa de táxi aéreo pousou no aeroporto internacional de Salvador, Bahia. Durante inspeção, foram encontrados cerca de 595 kg de cocaína escondidos na fuselagem da aeronave.

De acordo com a Polícia Federal, a organização criminosa é composta por fornecedores de cocaína, mecânicos e auxiliares de aviação, transportadores e doleiros — que são responsáveis pelas movimentações financeiras do grupo.

"Amada Amante"

Nelma Kodama foi uma das figuras centrais do escândalo de corrupção dentro da Petrobras, investigado pela Operação Lava-Jato. Ela foi presa em 15 de março de 2014 com 200 mil euros escondidos na calcinha no Aeroporto de Guarulhos tentando fugir do país.

Ainda em 2014, ela foi condenada pelo então juiz Sergio Moro a 18 anos de prisão por organização criminosa, evasão de divisas e corrupção. Kodama atuava em parceria com o também doleiro Alberto Youssef, de quem era namorada.

Em 2015, ao ser questionada em sessão da CPI da Petrobras, a doleira cantou a música Amada Amante, de Roberto Carlos, para explicar sua relação com Youssef. Kodama teve a pena reduzida após recorrer à delação premiada — ela foi a primeira a usar o recurso na Lava-Jato — e cumpriu apenas cinco anos de prisão. Ela foi liberada em 2017 após indulto de natal do então presidente Michel Temer.

Ex-secretário

A Operação Descobrimento também prendeu outros suspeitos de integrar a organização criminosa. Um deles é o ex-secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação de Mato Grosso, Nilton Borgatto, preso em Cuiabá. Segundo a PF, ele era um "curinga" dentro da estrutura da quadrilha. No apartamento de Borgatto, no município de Glória D'Oeste, a Polícia Federal apreendeu diamantes, 4 mil dólares e R$ 29,3 mil em dinheiro escondidos embaixo de uma cama.

Borgatto também foi prefeito, por dois mandatos, de Glória d'Oeste, município matrogrossense próximo à fronteira com a Bolívia. Ele foi ainda secretário municipal em Porto Esperidião, também na região de fronteira da Bolívia. Entre 2017 e 2019, foi assessor especial do então vice-governador Carlos Favaro (PSD).

Em março deste ano, Borgatto se desincompatibilizou do cargo para disputar a eleição de outubro como candidato a deputado federal pelo PSD.

O advogado de defesa do ex-secretário, Luiz Derze, afirmou que estudará qual medida judicial vai adotar. "Pode ser um habeas corpus ou um pedido de revogação da prisão", disse.

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