Mesmo sem apoio do poder público, a mobilização por um carnaval de rua "extraoficial" no feriado prolongado de Tiradentes tem crescido no Rio e em São Paulo, com um volume de adesões superior ao de fevereiro. Onze organizações e 130 blocos cariocas, incluindo alguns dos mais tradicionais, anunciaram apoio aos que vão às ruas, enquanto mais de 40 agremiações paulistas se organizaram para o "carnabril".
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, reiterou ontem que os blocos de rua não estão oficialmente autorizados a desfilar durante o carnaval fora de época entre os dias 20 e 24 deste mês, mas destacou que não vai colocar a Guarda Municipal para reprimir os foliões.
"Não vou sair correndo atrás de folião. O que a gente pede é a compreensão das pessoas. Só faltava agora botar Guarda Municipal atrás de folião. Isso não vai acontecer. A gente tem permitido que a cidade celebre, que seja vivida a vida. A cidade está cheia, as ruas estão cheias, bares e restaurantes lotados. A cidade está aberta, está celebrando. Não vou ficar atrás de folião nem por um decreto", disse Paes, ao visitar os barracões das escolas de samba do Grupo Especial, na Cidade do Samba, na Gamboa, na região central do Rio.
Embora os blocos tradicionais, que normalmente arrastam dezenas de milhares de foliões, já tenham dito à prefeitura que não vão desfilar este ano, os blocos menores, organizados por amigos ou moradores dos bairros, possivelmente vão sair às ruas, a exemplo do que ocorreu no feriado de carnaval, entre 26 de fevereiro e 1º de março.
Paes destacou que a logística para a organização dos blocos de rua é muito complexa e mobiliza intensamente os órgãos públicos.
"Os blocos estão pela cidade inteira. Então é Guarda Municipal, é trânsito, é enfim pensar no transtorno que causa para as pessoas, para minimizar o impacto nas ruas da cidade. É uma celebração muito complexa para organizar direito. Preferimos não correr nenhum risco. Adoro carnaval, adoro blocos. Não vai aqui nenhum tipo de tentativa de frustrar ninguém, mas é para a gente manter o bom padrão", afirmou.
Sem trio elétrico
Em manifestos publicados nesta semana e na passada, organizações têm pedido que o poder público não coíba a festa e apoie os que precisam de infraestrutura. Também argumentam pela livre manifestação popular e que os desfiles serão sem trio elétrico, e, portanto, não teriam impacto tão significativo na cidade.
Parte dos blocos que desfilaram com outro (ou nenhum) nome em fevereiro agora tem declarado que irão às ruas, enquanto outros que não aderiram na época sairão. Em São Paulo, por exemplo, tanto grupos com uma década ou mais de carnaval, como a Espetacular Charanga do França e o Bloco Fuá, quanto estreantes, como o Bloco Feminista, decidiram ir às ruas, sem divulgar publicamente o trajeto.
No Rio, a adesão inclui agremiações que costumam arrastar milhares de foliões, como o Cordão do Boi Tolo, quanto de menor porte, como o Bloco das Tubas. Um "BlocAto" pelo evento também foi realizado no Rio esta semana pela rede Ocupa Carnaval. "(Os apoiadores) Acreditam que as pessoas têm o direito de bater o tambor na praça, e que a prefeitura não pode inibir", diz Tomas Ramos, membro da rede. Em São Paulo, o coletivo Arrastão dos Blocos mapeou que serão de 10 a 12 desfiles não oficiais por dia.
Logística
De acordo com Lira Alli, do coletivo paulistano, as agremiações estão se organizando diante da falta de apoio municipal. Como exemplo, grande parte estaria firmando parceria com catadores de produtos recicláveis, enquanto alguns pretendem firmar um esquema de segurança e até contratar banheiros químicos.
Além disso, discute-se a realização de uma campanha pelo consumo exclusivamente de bebidas em lata e garrafas plásticas, a fim de evitar acidentes com vidro. "Todo mundo está saindo com estruturas mais simples. A maior parte decidiu recentemente sair, quando as curvas baixaram, e boa parte não está divulgando", diz. "Ninguém vai sair com trio, até porque isso também aumenta a possibilidade de judicialização."
Diferentes critérios têm sido discutidos entre quem irá desfilar em São Paulo. O Bloco do Fuá, por exemplo, vai passar por ruas pequenas e de mão única. Segundo Marco Ribeiro, um dos integrantes, a data, a hora e o local de saída são de conhecimento daqueles que frequentam os ensaios. "Eles não interferindo, não tendo violência (policial), a gente tem capacidade de fazer o nosso carnaval."
Já o Bloco Feminista, também paulistano, lançou uma campanha para arrecadar os R$ 7,5 mil estimados para o desfile. "A gente vai fazer um cortejo andando, com a bateria de chão e um carrinho de mão com som. A ideia é andar pelo bairro", conta Juliana Matheus, uma das fundadoras.
Também nesta semana, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), voltou a dizer que são necessários mais de 30 dias para organizar um carnaval de rua. "A gente não tem a mínima ideia do que seja, do tamanho que seja, de onde vai ser. Por isso, o nosso apelo para que a gente possa fazer mais pra frente."
Folia restrita à Marquês de Sapucaí
Os desfiles oficiais na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, acontecem na quarta e quinta-feira da próxima semana, com a Série Ouro, antigo Grupo de Acesso, e prosseguem na sexta-feira e no sábado, com as escolas do Grupo Especial, fechando no próximo domingo, com o desfile das crianças.
"Vai ser uma festa linda. O carnaval sofreu muito. Muito bom a gente poder ver o carnaval carioca dessa vez voltando firme a partir de quarta-feira", disse o prefeito do Rio, Eduardo Paes. "O Sambódromo está seguro e lindo. Foram feitas todas as obras de adaptações de exigências dos bombeiros com investimentos de quase R$ 12 milhões."
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