A Prefeitura de São Paulo indicou que vai manter as restrições aos blocos de carnaval que querem desfilar nas ruas da capital durante o feriado prolongado de Tiradentes, no próximo dia 21. A decisão ocorreu após uma reunião exaltada na noite desta sexta-feira, 8, com representantes de associações e grupos do carnaval de rua paulista e da administração municipal.
Para os líderes do carnaval de rua, a Prefeitura assumiu uma posição de intransigência durante a reunião e negou todos os pedidos feitos para apoiar os desfiles, fosse com infraestrutura ou autorizações. O encontro terminou com ânimos exaltados e protesto por parte dos representantes dos blocos, que acusam a secretária de Cultura, Aline Torres, de ter tentado encerrar a reunião durante a fala dos líderes. A gestão municipal não comentou o assunto neste sábado, 9.
"Temos o direito sim de ocupar as ruas de maneira responsável e organizada, mas a Prefeitura também precisaria nos atender. Deixamos claro que somos cidadãos e temos o direito garantido pela Constituição da livre manifestação, algo que eles não podem impedir", diz Thaís Haliski, coordenadora da Comissão Feminina do Carnaval de Rua de São Paulo.
Para José Cury Filho, do Fórum de Blocos de São Paulo, a Prefeitura teve desde dezembro para elaborar um plano de apoio ao carnaval de rua, mas "compareceu em peso na reunião para dizer que são os tutores do carnaval e que nós não pensamos na segurança da população, o que não é verdade". Ele diz que esperava "um resultado mais democrático" do encontro. "A luta sempre vai ser para a cidade ouvir quem faz a festa, porque o município também se beneficia. Não pode criminalizar e nem regrar ou proibir que a festa aconteça."
Na manhã da última terça-feira, 5, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) sinalizou que estaria "aberto a dialogar, contribuir" com o carnaval de rua. "A gente pode tentar fazer algo razoável, com o tamanho de estrutura que a gente possa eventualmente oferecer e eles conseguirem. A gente precisa fazer isso junto, não dá pra fazer separado", disse.
A insatisfação dos blocos veio após a Prefeitura confirmar a realização dos desfiles das escolas de samba ao longo do feriado de Tiradentes, mas se abster de apoiar o carnaval de rua. Segundo Nunes, o Município não teria tempo hábil para organizar um evento de porte equivalente ao dos anos anteriores à pandemia, o que necessitaria de meses de antecedência e costuma contar com patrocínio privado (que seria de R$ 23 milhões neste ano, antes do cancelamento por causa do avanço da Ômicron). "É uma estrutura muito grande. Se não tiver médico, ambulância, segurança, vão ter acidentes."
Na véspera, o Acadêmicos do Baixo Augusta e a produtora Pipoca - ligada a blocos com artistas de destaque nacional - tinham anunciado a realização dos desfiles de rua, mesmo sem a autorização da Prefeitura até então. Os grupos e agremiações também divulgaram um manifesto pela liberação de desfiles na rua durante o feriado prolongado.
Intitulado "Carnaval de rua livre, com diversidade e democracia! Contra a violência policial e a censura", o documento foi assinado pelo Fórum Aberto dos Blocos de Carnaval de São Paulo, que representa mais de 190 agremiações; a Comissão Feminina do Carnaval de Rua de São Paulo, integrada por aproximadamente 60 blocos; a União dos Blocos de Carnaval do Estado de São Paulo (Ubcresp), o Arrastão dos Blocos, a Associação de Bandas Carnavalescas de São Paulo (Abasp) e o Ocupa Carnaval SP.
Líderes e membros dos seis grupos compareceram à reunião desta sexta. Pela Prefeitura, foram representantes das Secretarias de Cultura, de Urbanismo e Licenciamento, de Subprefeituras, de Segurança Urbana e da Polícia Militar.
Parte dessas organizações já havia se manifestado no início do ano pelo adiamento do carnaval de rua de fevereiro, graças ao avanço da variante Ômicron e antes mesmo da decisão da Prefeitura. Apesar do cancelamento, o feriado de fevereiro também contou com os desfiles informais dos blocos nas ruas de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Os representantes do carnaval de rua afirmaram que pretendem desfilar mesmo sem autorização. A reportagem pediu um posicionamento da Prefeitura sobre a reunião, mas não recebeu resposta até a publicação desta reportagem.
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