A Polícia do Rio encerrou, nesta segunda-feira (28/3), uma investigação sobre um suposto desaparecimento de um bebê após o nascimento, em uma maternidade na Zona Norte da cidade. A mãe, Ingrid Valeria Santos Oliveira, acionou a corporação após afirmar que estava grávida de gêmeos, mas recebeu apenas um bebê após a cesárea a qual foi submetida na unidade de saúde. A apuração policial constatou que não houve rapto no episódio porque, na verdade, a mulher esperava apenas uma criança.
Ingrid acionou a polícia em 22 de dezembro, dois meses após o parto. Ela não acreditou na versão dos médicos da maternidade, que explicaram que a mulher tinha passado por um caso chamado de gravidez gemelar fantasma, quando a ultrassonografia aparenta ter dois fetos, mas é apenas o reflexo do líquido amniótico.
A investigação analisou as ultrassonografias feitas por Ingrid durante a gestação. A primeira, em 12 de abril de 2021, atestou uma gravidez única de nove semanas. Já em 10 de julho do ano passado, após quatro meses de gestação, uma ultrassonografia feita na clínica Dr. Amigo, em Irajá, apontou uma ‘“gestação gemelar, normativo e com batimentos cardíacos rítmicos”. No exame, de sete páginas, há a análise de cada um dos dois fetos.
De acordo com o Extra, o perito do Instituto Médico Legal (IML) que analisou o exame afirma que, apesar de sinalizar dois fetos, a ultrassonografia de julho mostra frequências cardíacas muito semelhantes (162 e 163 bpm) e as medidas do crânio e do abdômen são iguais.
“A coincidência de um desses parâmetros já seria um achado incomum, o que torna a presença de quatro parâmetros iguais algo muito improvável, já desconsiderando as medidas dos fêmures e as distâncias interorbitárias, também quase idênticas”, frisa o perito ao Extra, que ainda destaca que, nas fotos que acompanham o exame não é possível identificar com clareza a presença dos dois fetos.
Em 24 de agosto, a ultrassonografia feita em outra unidade médica, a Clínica Amor Saúde, atestou uma gestação única, com 30 semanas de evolução. No entanto, durante consultas no Hospital Fernando Magalhães, profissionais de saúde trataram Ingrid como uma grávida de gêmeos. Em 30 de julho e 27 de agosto, atestaram “batimentos cardíacos regulares” e chegou a encaminhar o atendimento de “alto risco”, destinado a gestantes que esperam dois ou mais bebês em uma única gestação.
Em 18 de outubro, Ingrid foi encaminhada ao hospital para realizar a cesária. Ela disse que lá, foi dito a ela que “as duas meninas estavam saudáveis”. “Antes do parto, as médicas disseram que minhas duas meninas estavam sentadas e saudáveis, aguardando o momento do nascimento. Mas, logo depois, me orientaram a procurar um psicólogo e falaram que os exames se confundiram e que a segunda criança era um reflexo da primeira.”, relatou ao Extra em janeiro deste ano.
No entanto, o IML afirmou que durante a ultrassonografia feita por uma médica do hospital antes do parto revelou uma “dificuldade de visualização” para o outro feto e que a mesma sugeriu que o segundo filho seria apenas o reflexo do líquido amniótico de um único feto.
No entanto, em 19 de outubro, apenas Sarah, de 3.187 quilos e 50 centímetros, foi entregue aos pais. Laura, nome dado pela mulher para a suposta outra filha, não foi levada a ela. No sumário de internação e alta do hospital, a médica responsável pelo parto afirmou que a gestação de gêmeos era um engano. “Paciente diagnosticada na gestação como gravidez gemelar, com nascimento de recém-nascido único. Gemelar fantasma na ultrassonografia”, escreveu ela no documento.
“Meu psicológico está abalado, estou mal porque me preparei para ser mãe de duas meninas, a partir do momento que recebi a notícia de que estava gerando gêmeos. Acredito que me levaram uma das minhas filhas”, disse Ingrid ao Extra, no início das investigações.
Para o perito do IML, o próprio peso de Sarah não condiz com uma gravidez gemelar, já que ela cresceria menos caso dividisse a gestação com outro bebê. O profissional também afirma que a imagem em espelho da ultrassonografia poderia ter levado a falsa impressão de outro feto.
Em janeiro, uma vistoria da Vigilância Sanitária constatou que as duas clínicas particulares em que Ingrid realizou ultrassonografias funcionavam de maneira irregular. Elas foram fechadas por falta de licença sanitária, ambientes sujos e desorganizados.
“Diante de todas as provas colhidas durante a investigação, sobretudo em relação à conclusão pericial em que se chegou a certeza de que não havia uma gravidez gemelar, decidimos por arquivar o inquérito sobre a suposta subtração de incapaz, justamente porque ela deixou a maternidade com seu único filho”, explicou o delegado Márcio Esteves, titular da 17ª DP.
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