Dados do Ministério da Saúde, divulgados na quinta-feira (24/3), mostram que houve um aumento de 43,9% dos casos de dengue este ano, em comparação com o mesmo período de 2021. Nas 10 primeiras semanas epidemiológicas de 2022 — de 2 de janeiro até 12 de março —, foram 161.605 registros, uma taxa de incidência de 75,8 casos por 100 mil habitantes.
A Região Centro-Oeste foi a que registrou a maior quantidade de casos — 204,2 por 100 mil habitantes — e Brasília foi a segunda cidade que mais teve casos prováveis (10.653). A capital federal só perde para Goiânia, com 16.629 infecções. Também foram confirmadas 29 mortes por dengue e ainda seguem em investigação outras 75 óbitos.
De acordo com o Ministério da Saúde, é preciso intensificar as medidas de vigilância, principalmente em áreas com surtos recentes da doença. Isso porque o período de maior transmissão de dengue é entre março e abril devido ao ciclo das chuvas e o tempo necessário para a replicação e disseminação do vírus entre os humanos e os vetores.
Para especialistas, a sazonalidade da doença e a presença do mosquito em áreas que antes não eram comuns, explicam o aumento de casos de dengue. De acordo com o infectologista Hemerson Luz, houve um descuido por parte da população e faltou incentivo à prevenção. Ele lembra que o Aedes Aegypti tem característica intradomiciliar e hábitos diurnos.
"Facilita muito o contágio de pessoas que estão dentro de casa. Em um contexto de pós-pandemia, diversos trabalhos presenciais foram substituídos pelo home office. Então, é comum as pessoas estarem mais em casa", explicou.
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Desconhecimento
Outro ponto que ajudou a aumentar os casos da doença é o desconhecimento da população das medidas de prevenção. Apesar de 70% dos brasileiros conhecer alguém que já teve dengue, segundo o levantamento do Ministério da Saúde, uma parcela da sociedade desconhece pontos básicos da doença. Tal como a forma de contágio: 8% dos cidadãos afirmaram que não sabem ou não lembram de como se dá o contágio e 4% mencionaram o contato de pessoa para pessoa — o que não acontece.
A pesquisa também aponta que 56% dos brasileiros não sabe a quantidade de vezes possíveis que se pega dengue. Apenas 2% responderam corretamente e informaram que uma pessoa pode pegar dengue até quatro vezes, já que existem quatro sorotipos do vírus.
De acordo com a infectologista Rosana Richtmann explica que a segunda infecção é mais perigosa para o paciente. Ela lembra que muitos casos de dengue são assintomáticos — o que deixa a pessoa mais suscetível para contrair novas vezes e desenvolver uma forma mais grave. "Quem tem dengue cria uma imunidade específica para um tipo específico (da doença), mas ainda fica suscetível a outros sorotipos", alerta.
Indicadores do InfoDengue, sistema de monitoramento de arboviroses desenvolvido por pesquisadores da Fiocruz e da Fundação Getulio Vargas, apontam a Região Sul como área de atenção em 2022. A tendência é de expansão da doença para maiores latitudes nos estados da região. Surtos importantes aconteceram na região de Londrina e Sengés (PR) e em Joinville (SC), no ano passado, indicando maior adaptação do mosquito transmissor às alterações climáticas. Tradicionalmente, essas localidades são mais frias.
Além do Sul, encontram-se em situação de atenção o noroeste de São Paulo, a região entre Goiânia e Palmas (TO), passando pelo Distrito Federal, e alguns municípios isolados da Bahia, Santa Catarina e Ceará. No ano passado, a região noroeste paulista, a capital e a Baixada Santista concentraram os casos de dengue em São Paulo. Segundo a coordenadora do InfoDengue, Claudia Codeço, "a antecipação do período de transmissão em alguns Estados traz preocupação e pode levar a incidências altas, se não for feito o controle adequado dos vetores". (Com Agência Estado)