Se a vacinação conseguiu frear o avanço da covid-19, o mesmo não se pode dizer de outras doenças antes erradicadas, mas que correm o risco de voltar devido à baixa cobertura de imunização. É o caso da poliomielite, cuja cobertura vacinal apresentou uma queda vertiginosa de 2012 para 2021 no Brasil. O alerta é da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
"O que vemos é que, normalmente, esse retorno acontece na forma de surtos nos países que já tinham eliminado a polio e que apresentaram baixas coberturas vacinais para a doença", alertou a vice-presidente da SBIm, Isabella Ballalai. É o caso do Brasil, que, em 2021, apresentou cobertura vacinal de 67,71%, consideradas as primeiras três doses da vacina, que devem ser aplicadas no primeiro ano de vida da criança. Em 2012, o alcance da imunização era de 96,55%.
A meta de cobertura vacinal para a polio é de 95%. Isabella salienta que, além da baixa cobertura vacinal, outro fator que aumenta o risco do retorno é a baixa vigilância de casos de paralisia flácida aguda, que é uma característica da doença. "Essa vigilância precisa ser melhorada para que haja uma rápida detecção e a adoção de medidas de resposta antes de que se torne um surto. Essa baixa vigilância com a baixa cobertura vacinal aumenta o risco de retorno da polio ao Brasil", afirmou.
Em nota, o Ministério da Saúde informou que "o Brasil tem intensificado as ações de imunização e vigilância epidemiológica da poliomielite entre o público-alvo". "A pasta acompanha o andamento da cobertura vacinal e recomenda a estados, municípios e Distrito Federal que realizem a busca ativa para vacinação", salientou.
No entanto, para a vice-presidente da SBIm é necessário que o governo federal volte a investir em comunicação para que a cobertura vacinal da polio, e de outras doenças, volte a crescer.
"Quando há comunicação é uma comunicação pobre, que se limita a chamar para tomar vacina. As pessoas precisam entender o que está acontecendo e perceber o risco que correm se não levarem seus filhos aos postos de vacinação", criticou Isabella.
Ela enumerou os riscos de se viver em um ambiente com surto de polio. "É uma doença bastante transmissível, que pode levar ao óbito, que leva à paralisia e que pode deixar a sequelas para o resto da vida. O vírus da pólio não atinge só o músculo da perna; atinge os músculos da respiração também. As sequelas vão desde a paralisia de um membro até a pessoa ficar em cadeira de rodas para o resto da vida", exemplificou.
Segundo o ministério, "a divulgação de informações sobre a segurança e a efetividade das vacinas como medida de saúde pública fazem parte de ações realizadas durante todo o ano". Países como o Malaui, na África, e Israel têm apresentado um avanço na presença da doença.
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Covid: cobertura precária
Se em relação à poliomielite a vacinação deixa a desejar, em relação à covid-19 alguns índices da cobertura vacinal também estão aquém do desejado. Levantamento realizado pela Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Pandemia da Covid-19 (Secovid) do Ministério da Saúde apontou que apenas 37,81% do público acima de 18 anos — ou seja, 60,5 milhões de brasileiros — tomaram a dose de reforço do imunizante contra a covid-19. Por enquanto, o reforço da vacina só é recomendado para os adultos.
Segundo a pasta, entre os estados que possuem mais pessoas aptas a tomarem a dose "extra" que ainda não retornaram aos postos de vacinação estão São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. A dose de reforço é recomendada para toda população adulta brasileira desde novembro do ano passado. Os cidadãos devem procurar os postos de saúde para tomarem a dose adicional pelo menos quatro meses após a aplicação da segunda dose.
O levantamento do ministério também indicou que 91,12% da população acima de 12 anos tomaram a primeira dose da vacina e 84,46% desse mesmo público completaram o esquema vacinal.
Novo medicamento
Para buscar novas frentes de combate à covid-19, a pasta abriu, ontem, uma consulta pública para avaliar a incorporação do baricitinibe, medicamento para o tratamento de covid-19, no Sistema Único de Saúde (SUS). A inclusão do remédio, aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), foi recomendada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec).
As contribuições de especialistas e da sociedade podem ser feitas, na página oficial da Conitec, até 24 de março. A avaliação da comissão indica o baricitinibe para adultos, hospitalizados e que necessitam de oxigênio por máscara ou cateter nasal. O medicamento tem registro no Brasil para o tratamento de artrite reumatoide ativa moderada a grave e dermatite atópica moderada a grave.
(Com MEC)