Cerco fechado no combate ao crime

O governo anunciou ontem, no Dia da Mulher, os resultados de operações policiais que prenderam mais de 3,9 mil pessoas por violência contra a mulher e atenderam mais de 37 mil vítimas. O esforço envolveu as polícias civis em todo o Brasil e foi coordenado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. Para especialistas, esse tipo de medida é de grande importância, mas deve ser acompanhado de ações em outros setores.

A operação foi apresentada em cerimônia no Palácio do Planalto, junto a outras medidas do governo voltadas para a população feminina. Participaram o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, além de outros ministros e membros do governo.

"O 'presidente cor-de-rosa' disse o seguinte: vamos erradicar a violência. Tivemos inúmeras ações de prevenção, e de repressão também. Neste governo, você nunca sabe onde começa o Ministério da Mulher e termina os ministérios da Justiça, da Saúde, da Cidadania ou qualquer outro", disse Damares no discurso de abertura do evento.

A ministra destacou a ação do governo com três operações policiais: Operação Vetos, que visou a violência contra idosos; a Operação Maria da Penha e a Operação Resguardo, voltadas para a violência contra mulheres.

Esforço integrado

Apesar de estar presente na cerimônia, o ministro da Justiça, Anderson Torres, não discursou. Os detalhes da Operação Resguardo II foram divulgados após o evento pelo ministério. O esforço ocorreu nos últimos 30 dias e acionou mais de 13.990 policiais em todos os estados e no Distrito Federal. Além das prisões, houve ainda a capacitação dos agentes de segurança que atuam no atendimento às vítimas de violência, com investimento de mais de R$ 8 milhões.

"A Operação Resguardo materializa o compromisso do Governo Federal com a proteção às mulheres", comentou o ministro Anderson Torres. "É uma resposta àqueles que acreditam que ficarão impunes após cometerem qualquer tipo de violência contra a mulher."

No Distrito Federal, foram 237 prisões de agressores e mais de 300 diligências. O Secretário de Segurança do DF, Júlio Danilo, afirmou que a operação "demonstra, antes de tudo, a capacidade de integração entre os órgãos de segurança de todo o Brasil, feita pelo Ministério da Justiça.

Ajuda de outros setores

Os casos de violência contra a mulher tiveram um aumento espantoso durante a pandemia, aponta levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgado na segunda-feira. Apenas entre março de 2020 e dezembro de 2021 foram 2.451 feminicídios e 100.398 casos de estupro e estupro de vulnerável contra mulheres. Nesse contexto, o combate ao crime se mostra necessário, mas não é suficiente.

"Penso que essas operações têm, sim, sua importância. Elas atuam na fase mais aguda do ciclo de violência. A divulgação dos números, que são realmente muito impressionantes, mostram a atuação do aparato do Estado nesse tema", analisa o advogado Marcelo Holanda, coordenador do Núcleo de Práticas Jurídicas do Centro Universitário IESB, que atende mulheres vítimas de violência. "A capacitação dos profissionais de segurança também é algo muito positivo. Porém atuar quando algo grave já aconteceu não resolve o problema", conta Marcelo.

Segundo o advogado, para cada caso de violência registrado existem inúmeras outras agressões que ocorreram antes. Pode começar com um gesto, uma batida na mesa, um empurrão e se agravar cada vez mais, tendo a morte como última consequência. "É preciso ter políticas que abranjam a sociedade como um todo. Diversos setores precisam ser convocados: saúde, segurança, entidades religiosas. É uma ação coletiva", diz.