O Ministério da Saúde afirmou, nesta quinta-feira (3/3), que vai repassar mais de R$ 13,8 milhões para reforço da assistência na Atenção Primária à Saúde (APS), ainda no contexto da pandemia, para o tratamento pós-covid.
Alguns dos sintomas mais comuns relacionados às condições pós-covid — manifestações persistentes ou novas detectáveis após a infecção aguda pela doença — são cansaço, falta de ar aos esforços, tosse, dor torácica, perda de olfato e paladar, cefaleia, tontura, alterações de memória, ansiedade e depressão.
O apoio da pasta será destinado aos municípios do Centro-Oeste no cuidado às pessoas com essas condições. A liberação do investimento foi assinada na última quarta-feira (2) pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. “Os leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) são importantes, mas se tivermos uma atenção primária preparada teremos mais condições de enfrentar o vírus”, destacou o ministro.
Com o recurso, os gestores poderão contratar profissionais qualificados e reformar e criar ambientes para abrigar ações necessárias, como espaços para fisioterapia, por exemplo. Além disso, será possível adquirir materiais de consumo necessário.
O secretário da APS, Raphael Câmara, destacou a importância do investimento, já que de 30% a 75% dos pacientes apresentam alguma manifestação pós-covid. “Esse dinheiro obrigatoriamente tem que servir para fazer a busca ativa de novos casos e o monitoramento, além de definir estratégias de priorização de atendimento, conforme a realidade local”, disse, destacando que o que não puder ser feito junto à APS pode ser encaminhado à área de Atenção Especializada.
Segundo a pasta, a Atenção Primária será um ponto estruturante no cuidado de pessoas afetadas por condições pós-doença.
Considerada a porta de entrada no Sistema Único de Saúde (SUS), a área tem características de ordenadora e coordenadora da rede pública, ou seja, um ponto da assistência que faz o primeiro atendimento à população e encaminha os casos, se necessário, para os outros serviços, permitindo tratá-las de forma eficaz e oportuna.
Investimento
O ministério explicou que, para o cálculo do repasse para cada município, foi elaborado um índice de prioridade para classificação dos municípios em alto, médio e baixo. O índice leva em consideração quantitativo de equipes, índice de vulnerabilidade social, porte populacional e taxa de mortalidade por covid-19.
“Assim, os municípios de perfil alto tiveram seus valores de repasse multiplicados por três, do perfil médio multiplicados por dois e do perfil baixo multiplicados por um. Dessa forma, o governo federal busca destinar o recurso para as localidades com questões de grande vulnerabilidade e de maior impacto da doença causada pelo coronavírus”, detalha a pasta.
Cenário
As condições pós-covid podem manifestar-se de diferentes maneiras e dependem da extensão e gravidade da infecção, dos órgãos afetados e dos cuidados tomados durante a fase aguda da doença. Alguns estudos sobre o tema permitem estimar que muitos pacientes apresentam sintomas persistentes ou novos decorrentes da infecção, o que deverá acarretar um aumento na demanda por cuidados prolongados e posteriores à infecção aguda nos serviços de saúde, especialmente na APS.
Dados de um estudo publicado na revista científica The Lancet sobre a evolução tardia de pacientes que passaram por internação por covid-19 mostraram que 76% dos 1.733 pacientes avaliados apresentavam algum sintoma persistente seis meses após a infecção aguda. O cansaço e a fraqueza muscular foram os sintomas mais comuns, presentes em 63% dos casos, seguidos por dificuldade para dormir, ansiedade e depressão. Além disso, entre aqueles que desenvolveram casos graves da infecção, 56% desenvolveram algum tipo de alteração pulmonar significativa.
Já um levantamento publicado no Epidemiology Infection, que acompanhou 767 pacientes após internação por Sars-Cov-2, 51,4% desses ainda se queixavam de sintomas após cerca de 80 dias do quadro agudo, mais comumente fadiga e dispneia aos esforços, e 30,5% ainda apresentavam consequências psicológicas pós-traumáticas. Outro sintoma, a difusão pulmonar prejudicada foi encontrada em 19%.
*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro