Turismo

Turismo no Brasil tem crescimento tímido por quase 20 anos e piora com a pandemia

Entre 2000 e 2019 o crescimento do turismo no Brasil avançou apenas 19,6%. Depois da chegada do coronavírus, o turismo foi o setor mais afetado

Carlton Lee Jones, 26 anos, é da Flórida, Estados Unidos, e adora viajar para o Brasil. "Já fui cinco vezes nos últimos anos. É um lugar seguro para viajar, até porque existe a parte negativa em todos os lados do mundo. Na minha opinião, o turismo brasileiro é interessante, tirando a parte dos buracos das ruas e a distância do aeroporto das cidades pequenas", disse o morador de Fort Lauderdale. No entanto, a apreciação não é a mesma para todos os viajantes estrangeiros. Pelo menos é o que dizem os números.

Relatório da Organização Mundial do Turismo (OMT), ligado à Organização das Nações Unidas (ONU), aponta que, entre 2000 e 2019, o fluxo de turistas no mundo aumentou 117,5%, saltando de 673 milhões para 1,5 bilhão de pessoas. No Brasil, porém, o avanço foi de apenas 19,6% no mesmo período: de 5,3 milhões para 6,4 milhões ao longo de 19 anos.

Com a chegada da pandemia, a situação piorou. Levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostra que o turismo foi o setor mais afetado durante a crise sanitária no Brasil. De acordo com a entidade, os gastos de turistas no país caíram 49% em 2020. De R$ 6 bilhões em 2019, o montante diminuiu para R$ 3 bilhões em 2020.

Ao Correio, o Ministério do Turismo informou que o Brasil recebe, anualmente, mais de 6 milhões de turistas estrangeiros. "Em 2020, como reflexo da pandemia, as chegadas de turistas internacionais caiu 66%, passando de 6,3 milhões em 2019 para 2,1 milhões em 2020. Ou seja, o Brasil deixou de receber 4 milhões de turistas por causa da pandemia.

A Argentina continuou sendo o principal país emissor (887,8 mil — cerca de 41% do total), seguida dos EUA (172,1 mil), Chile (131,1 mil) e Paraguai (122,9 mil)", informou a pasta, por meio de nota.

"O estado de São Paulo continuou sendo o principal portão de entrada de turistas internacionais no Brasil, com representatividade de 29,5%. O Rio de Janeiro passou a ser o terceiro principal portão, com 17,6%, cedendo o segundo lugar para o Rio Grande do Sul, com 23,3%", completou.

Helena Costa, professora do departamento de Administração da Universidade de Brasília (UnB) e coordenadora do Laboratório de Estudos em Turismo e Sustentabilidade da instituição, observa que o Brasil não integra grandes fluxos globais de turismo. "Basicamente, é centrado na América do Sul. Ao olhar dados divulgados pelo Ministério da Economia em 2021, a maior parte dos turistas estrangeiros vem de países fronteiriços com o Brasil, com destaque para a Argentina", explicou.

Segundo a especialista, é preciso compreender esse cenário para trabalhar os mercados que têm maior potencial. "Principalmente os latino-americanos, em uma visão mais expandida. Claro, há dificuldade em trazer um fluxo expressivo de turistas da Oceania, África e Ásia, até mesmo por questões logísticas, porque é longe. Mas, obviamente, o Brasil precisa alavancar o seu turismo ao redor do que tem de mais único para ofertar, como a biodiversidade", sugeriu.

Helena destaca que a pandemia prejudicou muito o fluxo turístico no país, seja o relacionado à entrada de estrangeiros (turismo receptivo) ou à saída dos nativos (turismo emissivo) rumo a outros países. De acordo com dados do Banco Central, os gastos de brasileiros no exterior somaram US$ 5,25 bilhões em 2021, uma queda de 2,7% ante 2020, quando o valor somou US$ 5,394 bilhões. O desempenho foi o menor desde 2005, ano em que os brasileiros gastaram US$ 4,720 bilhões. "Então, somando a pandemia mais a desvalorização do real e o custo da viagem internacional, não está podendo viajar para fora", disse a especialista.

Saiba Mais

Recuperação

"O ano 2022 será de certa recuperação para as operações de turismo, mas não de recuperação total, porque ainda estamos conhecendo as repercussões das novas variantes da covid-19 e seus picos", disse a professora Helena Costa.

A Organização Mundial do Turismo diz que para uma recuperação efetiva do turismo no mundo inteiro, deve haver uma implantação rápida e mais ampla da vacinação". "A chegada de turistas internacionais poderá crescer de 30% a 78% este ano, em comparação com 2021", completou a OMT.

*Estagiárias sob a supervisão de Odail Figueiredo