De acordo com dados do DataSus, três em cada 10 crianças não foram imunizadas contra a poliomielite no Brasil. O número é um exemplo da queda da cobertura vacinal geral no país, especialmente no âmbito infantil. Segundo especialistas, os índices vêm baixando desde 2016, após terem atingido seu pico no ano anterior — quando a média de pessoas protegidas dentro do público-alvo de cada vacina prevista pelo PNI (Programa Nacional de Imunizações) chegou a mais de 95%.
Embora o esquema vacinal contra o novo coronavírus esteja completo em pouco mais de 74% da população, a procura por outros imunizantes vem recuando, cenário que foi apenas acentuado pela crise sanitária. Em 2021, a cobertura média ficou em 60,8%. As três vacinas com a menor quantidade de doses aplicadas foram a tetra viral (5,7%), segunda dose da tríplice viral (50,1%) e poliomielite ou paralisia infantil (52%).
“A queda na cobertura vacinal começou a ficar mais evidente em 2016 e foi progressivamente ficando mais notória até 2019. Isso foi acentuado com a covid”, explica a diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi. “É isso que nos assombra: um aumento, um surto de doenças. É inadmissível que você tenha mortes por doenças que são imunopreveníveis em termos de saúde publica e individual.”
A especialista diz que uma das principais razões para a diminuição dos índices é a perda de percepção da importância da vacinação. “Os pais perderam o medo porque as vacinas eliminaram tão bem doenças que antes eram comuns que, agora, eles não estão vendo as consequências delas. É um paradoxo porque, pelas conquistas que as vacinas trouxeram para a saúde pública, os pais perderam a percepção do perigo das doenças”, aponta.
A hesitação por conta de possíveis efeitos colaterais também é destaque, impulsionada pela desinformação: muitos responsáveis apresentam maior preocupação em relação aos sintomas temporários dos imunizantes do que com a proteção fornecida por eles.
“E os efeitos colaterais que eles temem não são os normais e reais, são os deturpados divulgados pelas fake news. Os efeitos nem se comparam com os riscos da doença e das complicações dela”, destaca a diretora da SBIm. Ela lembra que as vacinas passam por uma série de etapas de avaliação antes de serem liberadas, de modo que não há motivo para desconfiança.
Outra situação que dificulta o acesso de crianças aos imunizantes são as falhas de abastecimento, bem como o atendimento pouco flexível dos postos de saúde. O presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Renato Kfouri, ressalta que a disponibilidade dos pais é menor atualmente, já que o modelo de trabalho foi alterado. Portanto, segundo o médico, é preciso habilitar as unidades para funcionarem fora do horário comercial.
Comunicação é a chave
Para Kfouri, a comunicação adequada é a chave para reverter o cenário de baixa adesão às vacinas. “Os pais mais jovens não veem as consequências dessas doenças que já foram eliminadas. É uma comunicação diferente que tem que ser feita hoje, para que eles entendam a importância da vacinação, usando redes sociais e esses outros meios”, opina. Vale mencionar que os gastos do Ministério da Saúde com campanhas em prol da imunização em 2021 somaram cerca de R$ 33 milhões, 52% a menos do que em 2020.
Além disso, há o desafio de mapear as necessidades de cada região: “O motivo pelo qual alguém não se vacina em uma grande capital geralmente é diferente do de alguém que mora no interior. Temos que conhecer essas causas.”
O especialista apontou ainda a imprecisão no registro das doses. Isso porque inicialmente o cadastro não era feito nominalmente, como estabelecido hoje. “É algo que envolve profissionais qualificados, computadores nas salas de vacina, internet. Entã, já vínhamos convivendo com o subregistro de aplicação de doses”, salienta.
*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro
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