Aconteceu essa semana em Dakar, no Senegal, o Fórum Mundial da Água, num amplo debate social, político e econômico envolvendo as questões relativas ao mais nobre dos elementos deste planeta. O esforço em firmar compromissos de responsabilidade na gestão da água e saneamento, mais uma vez ocupou o centro do palco mundial. Antes deste, tivemos, em Brasília, o mesmo evento, no qual tive a honra de ser uma das "speakers".
O tema, este ano, foi Segurança hídrica para a paz e o desenvolvimento. E a Reda (Rede Ecumênica de Água), entidade que visa promover a reflexão e a ação sobre as águas no Brasil, mais uma vez, trouxe os temas mais relevantes ao debate no evento paralelo, o Fórum Alternativo Mundial da água. Um belo documento foi tecido, e convido o leitor a conhecê-lo:
O Brasil é um país de dimensões continentais e de extraordinária riqueza hídrica, com as redes de águas doces dos seus rios que formam dezenas de bacias hidrográficas, com destaque para as bacias Amazônica, do São Francisco, do Rio Tocantins e do Prata. Este país contém 12% da água doce de todo o planeta e 53% da água da América Latina. As costas brasileiras, de cerca de 8.500km de extensão, são banhadas pelas águas azuis e verdes do Oceano Atlântico. Além das águas superficiais, o Brasil possui imensos aquíferos de águas subterrâneas, como o Guarani, no sul do Brasil, com 1,2 milhões de km²; e, ao norte, o recém-revelado Aquífero Alter do Chão, considerado o maior aquífero do mundo em volume de água disponível, 86,4 mil km³ de água, em uma área de 437,5 mil km², percorrendo vários estados do Norte do Brasil.
Mas em que situação se encontram as águas do Brasil hoje? Como o que acontece em âmbito global, o Brasil sofre com mudanças climáticas que afetam os ecossistemas e ameaçam a diversidade de expressões da vida nos diferentes biomas. As causas de tais mudanças são mais humanas que naturais, como a poluição por produtos tóxicos, o desmatamento, a mineração, entre outras. A água é um dos elementos que mais sofre com essa situação, com o desaparecimento das nascentes, a diminuição do volume dos rios voadores, bem como a diminuição de 15% do volume de águas nos biomas brasileiros nos últimos 20 anos.
Como consequência, o Brasil tem 70% dos seus rios poluídos. Acrescente-se a isso a má gestão dos recursos hídricos, o crescimento da sua mercantilização e a cultura do desperdício. Apesar de toda a abundância de água, o sistema sócioeconômico-político brasileiro não disponibiliza acesso à água de qualidade a toda a população, mesmo sendo um artigo da Constituição Brasileira... Tendo a Reda-Brasil o objetivo de articular forças que promovem a justiça das Águas, conclamamos a sociedade civil e os movimentos sociais organizados para:
l Afirmar a água como princípio de vida, direito de todos os seres vivos, bem comum do planeta Terra e da humanidade, opondo-se a todas as formas de depredação da vida no planeta, particularmente a vida das águas.
l Organizar-se como como grupos voluntários na defesa das águas potáveis do planeta, apoiando e fortalecendo os Comitês de Bacias Hidrográficas.
l Exigir que todos os programas de partidos e as exigências propostas a candidatos para todos os níveis da política representativa se comprometam com pautas que incluam o cuidado com a água e a defesa concreta dos rios e das bacias hidrográficas do país e da região em que vivem.
l Criar meios de articulação dos povos num grande Movimento de Cidadania pelas Águas, afirmando sua centralidade e essencialidade na vida e para a pauta da educação como um tema transversal a fim de envolver toda a sociedade nessa nova consciência da água como um bem, como um dom, como um direito.
A quem se interessar pela leitura do documento na íntegra, recomendo o site da Reda. Precisamos estar envolvidos neste movimento, afinal, ele diz respeito a todos nós.
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