A Polícia Civil de São Paulo investiga uma escola particular localizada em Vila Formosa, na Zona Leste da capital paulista, por acusações de maus-tratos contra bebês e crianças, alunos da instituição. Em vídeo que viralizou nas redes sociais no sábado (12/3), é possível ver dois bebês amarrados na cadeirinha no chão e enfaixados, de forma a não conseguirem se mobilizar, em uma espécie de "camisa de força" no banheiro da Escola de Educação Infantil Colmeia Mágica. Veja:
Nas imagens, as crianças choram e não são amparadas por ninguém, além de estarem embaixo de uma pia e próximas à privada do banheiro. O caso é investigado pela Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (Cerco) da 8ª Delegacia Seccional, pelos crimes de maus-tratos, suspeita de colocar a vida das crianças em risco e submissão dos alunos a constrangimento. A polícia ainda apura quem foi o responsável pela gravação.
A Colmeia atende bebês com menos de 1 ano de vida até crianças de 6 anos de idade. Após a denúncia — que não foi revelada a autoria — a Polícia Civil pediu um mandado de busca e apreensão no local. A Justiça autorizou o recolhimento de lençóis e do celular da diretora da instituição.
Após a repercussão das imagens nas redes sociais, a fachada da escola foi pichada com mensagens de repúdio, como “crime”, “desumano”, “maus-tratos”, “lixo” e “justiça”.
O vídeo que trouxe grande repercussão ao caso foi compartilhado, primeiramente, por Cristina Gardão, no perfil dela no Facebook. De acordo com a mulher, imagens e áudios foram compartilhados por uma ex-funcionária do local. Cristina denuncia que a filha dela faleceu em decorrência do atendimento da escola, em 2010.
A autópsia revelou que a menina morreu por “asfixia mecânica por agente físico”, o que, segundo ela, confirma maus-tratos. Apesar da denúncia na Diretoria de Ensino e na Polícia, o caso não foi para frente por “faltas de provas”.
“Quem sabe com os vídeos agora a delegacia de ensino fecha esse lixo de escola. Precisou ter morte e vídeos com maus tratos de crianças para que seja tomada uma atitude! Vamos ver se agora eles vão pagar por todo mal que eles praticam contra crianças!”, declarou ao compartilhar os vídeos. A postagem tem mais de 700 outros compartilhamentos no Facebook.
Cristina ainda revela um alívio das imagens viralizarem por acreditar que esse seja o fim da instituição. “É a escola que mataram minha filha! Esperei 12 anos para ver que a justiça de Deus não falhar e eles vão pagar por todo mal que fizeram a cada criança, principalmente pela morte da minha filha”, disse.
O Correio entrou em contato com a Polícia Civil para saber sobre atualizações no caso e, em nota, a corporação afirmou que “os fatos citados são alvo de investigação pela instituição” e que “diligências e oitivas estão em andamento”. No entanto, não responderam sobre quais pessoas já testemunharam. “Mais detalhes serão preservados para garantir a autonomia do trabalho policial”, escreveram em nota.
O Correio procurou a escola alvo de acusações, mas não obteve resposta até a última atualização desta matéria. O espaço permanece aberto para eventuais manifestações.
Mães compartilha m histórias de abusos na instituição: “Absurdo já acontecia há 20 anos”
Com o relato de Cristina, outras mães compartilharam descobertas de maus-tratos com os filhos. Uma delas, Tatiani Guimarães, comentou que, há 20 anos, a filha mais velha dela estudou na escola e era “maltratada tanto psicologicamente como fisicamente, do mesmo jeito que está no vídeo”.
“Sempre falaram deles, tentativas de denúncias e nada resolvido. Por que será? Qual explicação? Esse absurdo já acontecia há 20 anos gente! Maus-tratos e até morte de inocentes”, desabafou a mulher.
A afirmação foi confirmada pela jovem Yanka Duarte, de 22 anos, que aproveitou o espaço de compartilhamento e revelou ter memórias de abusos sofridos no local há 17 anos. “Estudei lá em 2005, com 5 anos, e garanto que essas coisas acontecem desde essa época. Tenho memórias nítidas de muitos absurdos”, revelou.
O grupo resgatou, também, uma publicação de 2014 em que uma mãe compartilhou fotos do filho com o rosto arranhado. “Indignação total! Meu filho chegou ontem assim da escolinha e ele afirma que foi a diretora quem o arranhou!”, disse. É possível ver, nas imagens, o menino com o uniforme da escola Colmeia Mágica.
Na época, Leide Gomes, a mãe dele, disse que registrou um boletim de ocorrência, fez o exame de corpo delito e entrou com processo contra a escola, além de transferir o filho para outra instituição.
Outras histórias mais recentes revelam que o padrão continua. Nathália Vaz mantinha os dois filhos, dois meninos, na escola até dezembro de 2021. Ela lembra que a diretora sempre reclamava de um dos filhos, Miguel.
“Ela dizia que ele tinha restrição alimentar, que quando ia comer vomitava. Eu pensava que ele, por ser pequeno, estava seletivo na alimentação e hoje choro de ódio e revolta por saber que não era isso e, sim, que elas deveriam obrigar ele a comer o que não queria”, compartilhou.
Já Katia Serem conta que a experiência dela foi pequena, de poucos dias, mas que mesmo com pouco tempo, o filho dela alegou violência por parte das professoras. “Eu tirei meu filho dessa escola já nos primeiros dias pois ele começou a reclamar que a tia batia nele e trancava ele na sala dela. A dona é uma sem vergonha”, contou.
Outras mães ainda falaram que os filhos passavam “o dia inteiro de castigo na sala dela”. De acordo com uma delas, uma professora confidenciou que a diretora jogou um copo de água gelada no rosto de um aluno e “mandou ele acordar para a vida”.
As histórias compartilhadas serviram, também, para alertar mães e pais que pensavam em confiar os filhos na escola. “Estou aos prantos, minha filha ia para essa escola nos próximos meses. Obrigada por essa publicação. Deus é bom, e me fez agora, de madrugada, ver essa publicação. Sem palavras”, disse.
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