Guerra no Leste Europeu

Bolsonaro garante que Brasil permanecerá neutro em relação ao conflito na Ucrânia

Durante coletiva, presidente tece elogios a Vladimir Putin, com quem conversou ontem por telefone, e diz que neutralidade evitará prejuízos para a agricultura no país. Embaixador brasileiro na ONU atenuou discurso contra a Rússia

O presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), voltou a reafirmar que o Brasil permanecerá neutro em relação ao conflito na Ucrânia. Em coletiva de imprensa, no fim da tarde de ontem, no Guarujá, onde passa o carnaval, ele ainda questionou: “Você quer que eu faça o que pra acabar com a guerra? Tudo que eu podia fazer eu já fiz e vou continuar fazendo”, disparou. Bolsonaro contou que ele e o presidente russo, Vladimir Putin, conversaram por duas horas, ontem, por telefone.

O chefe do Executivo defendeu que uma postura mais forte poderia agravar a fome e a miséria no Brasil, por conta das relações comercias com a Rússia. “No meu entender, nós não vamos tomar partido. Vamos continuar pela neutralidade e ajudar, na medida do possível, na busca por soluções. Eu vou esperar o relatório para ver como vai ser minha posição. Isso [uma posição mais crítica] pode trazer sérios prejuízos para a agricultura no Brasil”, defendeu. “Não queremos trazer mais sofrimentos.” A posição de Bolsonaro foi reforçada pelo embaixador brasileiro nas Nações Unidas (ONU), Ronaldo Costa Filho, durante a votação para uma convocação extraordinária da Assembleia Geral do órgão.

Ao ser questionado a respeito da conversa que teve com Putin quando foi à Rússia, no início do mês, e ontem, por telefone, Bolsonaro afirmou que não poderia dar mais detalhes, mas garantiu que foi um encontro descontraído. O presidente ainda teceu comentários elogiosos a Vladimir Putin. "Todas as vezes que conversei com o Putin foi uma conversa de altíssimo nível." Durante toda a entrevista, o chefe do Executivo brasileiro optou por não fazer nenhuma crítica ao presidente russo.

Bolsonaro disse, ainda, que é um "exagero falar em massacre" na Ucrânia. "Eu entendo que não há interesse por parte do líder russo de praticar um massacre. Ele está se empenhando em duas regiões do sul da Ucrânia que, em referendo, mais de 90% da população quis se tornar independente, se aproximando da Rússia. Uma decisão minha pode trazer sérios prejuízos para o Brasil", reiterou.

Ainda sobre o conflito, as possíveis ameaças nucleares preocupam líderes ao redor de todo o mundo. Quando questionado sobre este fato, o presidente brasileiro definiu como uma “proposta natimorta”. “Não tem cabimento de negociar. Ninguém quer usar a pólvora, todo mundo prefere usar a saliva, mas você não sabe o que acontece do lado de lá”, disse. “A maioria dos chefes do mundo pensam o que eu estou pensando: querem a solução do caso”, defendeu.

Estima-se que ainda existam centenas de brasileiros presos na Ucrânia. Sobre o resgate destes cidadãos, o presidente voltou a dizer que as aeronaves de transporte tático/logístico C-390 Millennium estão à disposição para uma possível incursão na Ucrânia. “Se tiver brasileiros, havendo vaga, eles entrarão nos nossos aviões. Eu não acredito que se bloqueie as fronteiras, porque é uma questão humanitária. Nenhum país quer expor vidas a uma guerra, ainda mais gente de fora”, observou.

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Sessão extraordinária

Ainda no domingo, o embaixador brasileiro na ONU, Ronaldo Costa Filho, reafirmou, em reunião extraordinária, o voto do Brasil contrário à Rússia. O encontro determinou a convocação extraordinária da Assembleia Geral das Nações Unidas para hoje.

Costa Filho, porém, atenuou o discurso em relação ao da última sexta-feira, em que condenou veementemente a invasão à Ucrânia. Ontem, o embaixador alertou que sanções econômicas de Europa e Estados Unidos mais o envio de armas para a Ucrânia podem piorar a situação do conflito.

"O fornecimento de armas, o recurso a ciberataques e a aplicação de sanções seletivas, que podem afetar setores como fertilizantes e trigo, com forte risco de aumentar a fome, acarretam o risco de agravar e espalhar o conflito e não de resolvê-lo. Não podemos ignorar o fato de que essas medidas aumentam os riscos de um confronto mais amplo e direto entre a Otan e a Rússia", argumentou.

O embaixador também defendeu que o Conselho ainda não exauriu os recursos para conter o avanço do conflito. “O Conselho, com a sua responsabilidade de manter a paz internacional, não exauriu ainda os mecanismos de que dispõe para contribuir para uma solução diplomática em direção à paz”, afirmou. Costa Filho ainda reiterou o pedido para que cessem as hostilidades e para que haja diálogo entre as partes envolvidas.

Apenas a Rússia foi contra a resolução aprovada para que ocorra uma Sessão de Emergência. Foram 11 votos a favor, um contra e três abstenções — da China, da Índia e dos Emirados Árabes Unidos.