Entre janeiro e junho de 2021, 666 mulheres foram vítimas de feminicídio no país, conforme dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Para a candidata mais votada da história em seu estado, delegada e deputada estadual Gleide Ângelo (PSB-PE), sua eleição, há três anos, foi “um grito de socorro das mulheres em busca de representatividade”.
A parlamentar, que acaba de assumir a Secretaria da Mulher da União Nacional dos Legisladores e Legislativos Estaduais (Unale), comentou suas aspirações políticas e o cenário do feminicídio no Brasil em entrevista ao CB.Poder desta terça-feira (22/2). O programa é uma parceria entre o Correio e a TV Brasília.
Segundo Gleide, o fato de o crime de feminicídio ser, muitas vezes, visto por pessoas do sexo masculino como sendo algo justificável é “cruel”. “É uma violência que está na estrutura da sociedade. Isso porque a gente vive numa cultura machista, patriarcal e misógina mundialmente, mas você vê que tem locais em que ela vai ficando mais grave”, analisou.
A delegada destacou ainda ser necessário ter tolerância zero para casos do tipo, especialmente porque são situações nas quais, em geral, o assassino dá sinais antes de matar. “Tem que ser tolerância zero, porque o que mais me dói é que o feminicídio, frente a outros crimes, ele é anunciado, ele é evitável, e a gente não está conseguindo evitar”.
Transição para a política
Gleide Ângelo ingressou na política nas eleições de 2018, eleita deputada estadual de Pernambuco, após quase 20 anos na polícia. Segundo ela, a intenção de concorrer ao cargo era de passar a tentar evitar os crimes em vez de apenas deter o responsável. “Minha vida toda eu trabalhei com homicídio, na DHPP (Delegacia de Homicídios de Pernambuco), fazendo local de morte. O que é o local de morte? A pessoa morreu. O que eu posso fazer? Prender. Era a parte mais fácil para mim. Era só pedir um mandato à juíza e prender”, lembrou.
“A conclusão que eu cheguei, depois de 18 anos na polícia, foi que eu só estava chegando tarde demais. ‘Eu preciso agora arrumar uma forma de trabalhar não mais para prender o assassino, mas para que a mulher não morra’, e não tem outra forma de fazer isso senão por política pública, prevenção.”
A parlamentar ressaltou que frequentemente as vítimas de feminicídio não prestam queixa do agressor. “Quando morre uma mulher de feminicídio, não morre só ela — morre ela, morrem os filhos, morre a mãe, morre a família toda”, lamentou.
Aspirações
Durante os últimos três anos em Pernambuco, a deputada deu entrada em 230 Projetos de Lei e teve 85 leis sancionadas, sendo mais de 40 com o objetivo de tirar a mulher da violência.
Embora tenha apresentado bons resultados, a entrevistada não pretende entrar na corrida para deputada federal. “A minha proposta inicial é fortalecer a política da mulher no meu estado, então eu preciso continuar lá”, disse. “Política não é profissão, não é carreira. Política são competências diferentes. Para mim, ser deputada federal não é subir de nível”, completou.
*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro