Atenção

Fim de semana é de alerta para chuvas e deslizamentos em Minas

Com previsão de fortes precipitações, risco geológico se eleva no estado. Trincas e rebaixamento do solo estão entre os sinais de perigo, ensina bombeiro

Ao mesmo tempo em que assiste, consternada, aos horrores provados pelos deslizamentos de terra em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, a população de Minas Gerais volta a ser castigada pelas chuvas e consequentes acidentes geológicos. Somente nos últimos três dias, pelo menos quatro pessoas morreram soterradas, elevando para 30 o total de óbitos relacionados aos temporais no estado. Mais da metade dos municípios decretaram situação de emergência neste período chuvoso, enquanto o número de desalojados e desabrigados também sobe. Nas estradas, quedas de barreiras também elevam riscos. E o momento ainda é de alerta: os mineiros terão mais um fim de semana de precipitações fortes em várias regiões, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Por isso, todo o cuidado é pouco.

“A população tem que estar atenta neste período de chuvas intensas, de tempestades severas que provocam um grande volume de água no solo, encharcando-o e aumentando o peso dessa massa. Todos devem ficar atentos aos sinais característicos de movimentação de massa, como trincas ou rebaixamento do solo que geram degraus, níveis diferentes de degraus no terreno, deslizamentos de terra e desplacamentos nas encostas com rolamento de rochas. Outro sinal muito característico é a inclinação de árvores, postes e cercas no sentido do deslocamento do terreno”, ensina o tenente Henrique Fonseca, do 1º Batalhão do Corpo de Bombeiros de Belo Horizonte.

Também é preciso atenção a sinais dentro de casa. “Infiltrações nas paredes, pisos e tomadas de energia elétrica são sinais de entrada excessiva de água no terreno enfraquecendo suas estruturas. A população deve ser deslocada para locais seguros e não podemos deixar para fazer isso no momento da tempestade, pois pode ser tarde”, completa.

De acordo com ele, as últimas semanas foram de movimento intenso na corporação. “Atendemos 1.700 ocorrências relacionadas às chuvas nos últimos 40 dias em Minas. Um aumento de 480% se comparado ao mesmo período do ano passado. É um trabalho árduo que vem sendo realizado com muita intensidade. Realizamos também 214 mapeamentos de áreas de risco e isso tem desencadeado trabalhos preventivos e de mitigação em conjunto com a Prefeitura de BH e a Defesa Civil, preparando a população para enfrentar esse período crítico”, concluiu.

Ontem, três pessoas de uma mesma família morreram em um deslizamento de terra em Caratinga, no Vale do Rio Doce. O caso ocorreu no Bairro Santo Antônio. Segundo o Corpo de Bombeiros, o imóvel atingido é uma casa de dois andares. Na parte de baixo, moravam um homem de 42 anos, a companheira dele, de 22, e a filha, de 17. Vizinhos contaram que o deslizamento ocorreu pouco antes das 6h e afetou o primeiro pavimento da casa. Os vizinhos tentaram chamar os moradores, mas ninguém respondeu. Ao arrombar a porta, eles perceberam que uma das paredes havia sido danificada e a lama entrou. Eles já encontraram uma vítima sem sinais vitais e outra com metade do corpo soterrada. Quando os bombeiros chegaram, as testemunhas já haviam retirado os três, mas a equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) confirmou que eles estavam mortos. A Polícia Civil foi acionada.

Em Pará de Minas, na Região Centro-Oeste do estado, parte de uma casa desabou e deixou uma idosa ferida, no início da manhã de ontem. A chuva dos últimos dias agravou a situação do imóvel, que já apresentava risco de queda. Apenas a mulher, de 65 anos, estava na casa. Ela foi resgatada pelo Corpo de Bombeiros e recebeu os primeiros atendimentos da equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A idosa estava consciente, com pressão arterial alterada, corte na parte de trás da cabeça e possível luxação no tornozelo esquerdo e punho direito. Ela foi levada para o Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Pará de Minas.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, o desabamento ocorreu na cozinha. A Defesa Civil foi acionada para averiguar se o restante da estrutura do imóvel também ficou comprometido. Há cerca de um ano, a casa, que fica no Bairro São Cristóvão, foi vistoriada pelos bombeiros. Na época, os moradores foram notificados e informados sobre o risco de desabamento. Devido às chuvas da madrugada de ontem, outras regiões foram atingidas e estavam sendo monitoradas.

Na quinta-feira, uma mulher de 45 anos foi mais uma vítima de ocorrência do período chuvoso. Ela foi soterrada na localidade de Córrego Conceição dos Limas, em Frei Gaspar, no Vale do Mucuri. Segundo o Corpo de Bombeiros, há informações de que a vítima estava lavando louça nos fundos de um imóvel quando foi surpreendida pelo deslizamento de um barranco. A princípio, a terra cedeu em função das chuvas.

Também na quinta-feira, um deslizamento de terra invadiu a pista em direção a Nova Lima, e o fluxo no trecho ficou totalmente interditado das 19h às 7h.Ontem, o tráfego funcionou no sistema "pare e siga", em apenas uma pista. O deslizamento ocorreu perto do Bairro Chácara dos Cristais, no trecho entre os trevos dos Cristais e do Quintas II, segundo a gestão municipal.

Mais temporais

De acordo com o Inmet, a previsão para hoje é de céu nublado com pancadas de chuva e trovoadas isoladas no Noroeste, Norte, Rio Doce, Mucuri, Jequitinhonha, Central Mineira e Metropolitana. Nas demais regiões, o céu deve ficar parcialmente nublado a nublado com pancadas de chuva e trovoadas. O meteorologista do Inmet Claudemir Azevedo indica que “a convergência de umidade vinda da região amazônica está provocando as chuvas fortes de Minas’’. Apenas a partir de segunda-feira as chances de precipitações vão diminuir.

Em Belo Horizonte, a Defesa Civil emitiu alerta de pancadas de chuvas válido até a manhã de ontem. "Possibilidade de pancadas de chuva (20 a 40mm) com raios e rajadas de vento em torno de 50km/h até as 8h de sábado", comunicou o órgão. Todas as regiões da cidade já superaram a média de chuvas para fevereiro e algumas se aproximam do dobro da expectativa. De acordo com a Defesa Civil, até ontem, em Venda Nova, já choveu mais que o dobro. As regiões Centro-Sul, Nordeste e Norte também se aproximam dessa marca.

As chuvas elevam o risco geológico, com alerta até segunda-feira, nas regiões Venda Nova, Norte, Nordeste, Centro-Sul. A previsão para BH hoje é de céu nublado com pancadas de chuva e trovoadas isoladas, e temperaturas entre 17 e 27 graus.