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Mortos e soterrados em uma tragédia previsível

Balanço da devastação causada pela tempestade que caiu na cidade está longe de ser fechado. E a situação pode piorar, pois dados da meteorologia apontam para novas chuvas fortes, hoje, na região

O resultado das imagens de rios de chuva percorrendo as ruas de Petrópolis, na última terça-feira, levando junto carros, casas e pessoas com imensa violência se viu ontem, quando a tempestade deu uma trégua. Até o fechamento desta edição, o número provisório era de 104 mortos, além de inúmeras pessoas soterradas, ruas enlameadas, ônibus caídos em córregos, veículos empilhados sobre outros, casas destruídas e falta de energia elétrica em diversos bairros da cidade.

Mais uma vez, a tragédia é o resultado do baixo investimento em obras de contenção e habitacionais. Em 2011, as fortes chuvas na Região Serrana do Rio deixaram mais de 900 mortos, mas a situação em Petrópolis pouco evoluiu de lá para cá. Em 2018, a prefeitura elaborou o Plano de Contenção de Riscos, que mapeou 234 áreas vulneráveis e sujeitas a deslizamentos e enchentes. Esse levantamento concluiu que aproximadamente 7 mil famílias teriam de ser removidas das encostas e reassentadas. Só que isso não saiu do papel.

Para piorar, o governo do Rio de Janeiro pouco investiu na prevenção das tragédias causadas pelas chuvas na Região Serrana. De acordo com o Portal da Transparência, a gestão do governador Cláudio Castro estava autorizada a investir R$ 770 milhões, porém só aplicou R$ 169 milhões.

O balanço da destruição está longe de ser fechado. Isso porque a previsão meteorológica para hoje, em Petrópolis, é de mais chuvas intensas: há uma Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) em território brasileiro — ainda a mesma responsável pelas enchentes de semanas atrás na Bahia, em Minas Gerais e no Espírito Santo.

Segundo a Defesa Civil do estado, aproximadamente 377 pessoas estavam desabrigadas. Levantamento do órgão contabiliza 229 ocorrências, das quais 189 são deslizamentos.

Os bairros Quitandinha, Alto da Serra, Castelânea, Centro, Coronel Veiga, Duarte da Silveira, Floresta, Caxambu e Chácara Flora concentraram as principais quedas de barreiras. A área mais atingida foi a do Morro da Oficina, onde moradores e voluntários trabalhavam intensamente no resgate de vítimas.

Dor das vítimas

Acompanhando as equipes, amigos e parentes dos moradores aguardavam em vão por notícias, uma vez que o sinal de celular praticamente inexiste. "Vim por causa de um colega. A mãe e a filha dele, de cinco anos, estão soterradas", contou Letícia Jennifer, de 28 anos. "Meu colega ficou a noite toda ajudando a cavar. A casa está soterrada. Tem três andares e o segundo está soterrado".

A costureira Sheila Mara Loiola, 45, também estava à espera de notícias sobre desaparecidos. Ela disse que acolheu muitas pessoas em sua casa desde a noite de terça. "Dois amigos nossos perderam a família inteira. Teve uma menina que só sobrou ela, não sobrou ninguém da família", disse.

Visitantes e funcionários que estavam no Museu Imperial de Petrópolis, quando a tempestade começou, passaram a noite abrigados nas dependências do palácio e só conseguiram sair na manhã de ontem — ninguém ficou ferido e o acervo está preservado. A Rodovia Rio-Petrópolis foi parcialmente interditada na altura do km 82, próximo ao terminal rodoviário do Bingen, devido à queda de uma barreira. (Com Agência Estado)