Foi divulgada a íntegra do vídeo do espancamento do congolês Moïse Kabagambe, morto no final de janeiro. O crime, até então, tinha três acusados, apesar de testemunhas afirmarem ter visto cinco pessoas participando das agressões. Agora, a suspeita foi confirmada: mais duas pessoas apareceram nas imagens das câmeras de segurança. As identidades ainda não são conhecidas.
Logo que o jovem congolês foi derrubado, um homem vestido com a camisa da seleção brasileira, que estava sentado em um banco do estabelecimento onde o assassinato ocorreu — a barraca de praia Tropicália —, se aproximou e começou a puxar as penas de Kabagambe. Simultaneamente, outro homem segura o pescoço do jovem, e outro bate nele com um taco de beisebol.
Mais um homem, vestido com blusa e boné pretos, está presente em diversos momentos do registro. Primeiro, observou tudo, depois, se desfez do taco de beisebol (arma do crime), entregue a ele por um dos agressores. Por fim, começou a agir como se prestasse socorro a Moïse, após um casal passar com expressão preocupada ao ver a vítima estendida no chão, já imóvel.
O vídeo também põe em cheque o depoimento do dono do estabelecimento, que havia declarado à polícia que foi avisado do ocorrido às 23h e que, ao chegar no local, à meia-noite, o corpo do congolês já não estava lá. As imagens, no entanto, revelam que o jovem continuou no chão por volta de mais uma hora e meia.
Descaso
O quiosque continuou vendendo bebidas normalmente em meio ao assassinato do congolês. Uma testemunha disse à Delegacia de Homicídios da Capital – responsável pelo caso – que foi comprar um refrigerante no estabelecimento e um dos agressores, identificado como sendo Aleson Cristiano de Oliveira, disse para que ela não olhasse enquanto os golpes eram desferidos.
Ela conta que, em seguida, pediu ajuda a dois guardas municipais, que se negaram a prestar auxílio. Além disso, Brendon Alexander, um dos presos pelo assassinato, teria falado com os socorristas do Samu, alegando que “não sabia” o que havia acontecido com o congolês.
O companheiro da testemunha também prestou depoimento, relatando que viu Moïse amarrado.
A equipe do Samu, embora tenha sido acionada às 22h26, só chegou às 23h15, 49 minutos depois. Os policiais, por sua vez, chegaram à meia-noite e ficaram no local por cerca de 10 minutos. Durante o período, não se aproximaram do corpo.
A família de Moïse só foi informada do crime quase 12 horas depois que aconteceu. “Vendo a íntegra do vídeo, vocês todos verão que simplesmente há sim participação de outras pessoas tanto em omissão de socorro quanto de agressões”, disse um dos tios da vítima, Yannick Kamanda, a senadores durante uma audiência da Comissão de Direitos Humanos.
*Estagiárias sob supervisão de Ronayre Nunes