"Meus alunos estão passando na Unifesspa! É escola pública, amiga! Só a gente sabe!", diz a professora de língua portuguesa Florência Pinto, aos pulos e chorando de felicidade, no vídeo que viralizou na internet essa semana. Chamada carinhosamente de Flor, a educadora da pequena cidade de Canaã dos Carajás, no Pará, nasceu em Turiaçu, interior do Maranhão, mas se mudou pequena para o estado vizinho. Aos 35 anos, casada com o assistente social Marcus Wilke, é mãe dos pequenos Wilke Filho, 4 anos e Helena, 3 anos. "Razão das nossas vidas", se derrete Flor.
"Ser professora não foi uma escolha, não foi uma opção. Sou professora por decisão. Sou professora porque eu quero ser professora", essa foi a resposta quando perguntada do porquê tornou-se educadora.
Formada pela Universidade Estadual do Pará, ela descreve a conclusão do curso como "um momento magnífico". "Eu sou fruto de um curso popular chamado Cooperativa Centro de Estudos Paulo Freire em Mosqueiro, que hoje não existe mais. Foi graças ao professor Mario Cardoso, que me deu uma oportunidade de estudar, que me inseriu nesse processo de educação que hoje eu consigo repassar um legado que um dia alguém também me apresentou."
Ela também relembra os tempos de estudante. "É desafiador. Sabe quando você não tem nada, ninguém acredita em nada? E você consegue entrar na universidade e mudar a sua vida, a sua história, romper o ciclo de pobreza e violência da sua família, a faculdade para mim, foi isso", define.
Para Flor, a educação é o único caminho. "Sigo a docência porque eu acredito que a educação é o único caminho, foi ela que mudou a minha vida, que me tirou lá do interiorzinho do Maranhão, da pobreza, da roça, para estar hoje aqui, com uma vida confortável."
A professora revela que ela e o marido são os únicos da família com curso superior. "E isso dói muito. Eu preciso conseguir que meus alunos façam a diferença na vida deles para que esse ciclo continue. E a escola, a universidade são fundamentais para isso. Eu não sei outro caminho."
Flor conta que, ao entrar em sala de aula, o foco dela é todo em seus alunos. "Meu mundo do lado de fora apaga", afirma ela, revelando que diz isso para eles. Ela ressalta que a profissão é, sim, difícil, mas que compensa. "Receber dos meus alunos o que eu recebo, o carinho, o respeito acima de tudo, isso não tem preço. Ninguém vai tirar isso de mim."
Lecionando em uma escola pública e em outra privada, ela fala da diferença de realidades. "Na rede particular, eu tenho toda a estrutura da escola que eu preciso. Tem livros à vontade, material didático, climatização, data show nas salas, acesso à impressão." E compara com a rede pública. "Já na escola pública, eu só tenho a liberdade de trabalho. Porque eu estou em uma sala que não tem porta, que o ventilador não presta, que a energia não presta. Canaã é uma região muito quente, tenho uma sala com mais de 40 alunos. Na pandemia, triplicou a quantidade de alunos da escola, por conta das aulas remotas. Eu não tenho equipamento necessário", denúncia. Mas esclarece. "As realidades são diferentes, mas a professora é a mesma, o amor é o mesmo."
Com milhares de visualizações e compartilhamentos nas redes sociais, a professora diz que o "mico" valeu a pena. Com a voz embargada de emoção, ela relata o momento, revelando que, na pandemia, houve uma debandada dos alunos durante o período on-line e que a escola criou aulões presenciais aos finais de semana, durante três meses.
"Aquele momento foi um turbilhão, foi o momento de dizer, 'vale a pena ser professor' neste país com tanta desgraça. E para mim, é o resultado de que todo esforço vale a pena. E eu choro com eles, vibro com eles."