A espera por notícias de amigos e familiares que estão na Ucrânia é uma agonia comum entre moradores de Prudentópolis, no Paraná. A cidade abriga a maior comunidade ucraniana do Brasil — dos 52 mil habitantes, 75% são descendentes ucranianos. Há uma grande movimentação entre eles para conseguir se comunicar com os parentes que residem no país invadido pela Rússia e, também, lutar ao lado deles, mesmo que de longe.
Descendentes de ucranianos de Prudentópolis se mobilizaram, na quinta-feira, em apoio e solidariedade ao país. Os moradores fizeram questão de vestir a bandeira da Ucrânia e utilizar elementos particulares da cultura. Houve, também, uma manifestação religiosa no local. Dom Meron Mazur, bispo greco-católico ucraniano brasileiro e primeiro eparca da Imaculada Conceição em Prudentópolis dos Ucranianos, e outros padres celebraram um momento de oração.
O dentista Giovane Rodrigo Michalovski, descendente da quarta geração de ucranianos, contou ao Correio como está sendo passar por esse momento delicado em que o país é atacado e ele assiste, de longe, seus amigos buscarem refúgio ou irem para a linha de frente do conflito. Ele explicou que recebe notícias dos amigos pelas redes sociais, mas que não é frequente, visto que a maioria deles está fugindo para a Polônia, enquanto o resto se alistou para lutar na guerra.
“Os civis estão na rua lutando para defender Kieve. Tento não ir atrás de notícias com frequência, eles estão exaustos. É incrível a resistência desse povo, mas eles estão firmes e confiantes e sempre frisam que nós, do Ocidente, podemos ajudar denunciando cada vez mais o crime da Rússia. Precisamos desmentir que os ucranianos querem fazer parte da Rússia. Precisamos desmentir que a Ucrânia é nazista. Nosso presidente é judeu e foi eleito por 70% da população. O nosso exército está ativo, firme e jamais vai largar as armas”, assegurou.
Yana Onesko, de 52 anos, diz que é descendente de ucranianos e tem muito orgulho disso. A enfermeira, que mora em Prudentópolis, relata que não consegue se conter ao ver as notícias vindas da terra de seus antepassados: “Não dá para não chorar, vendo as manchetes. Toda hora tem notícia de um novo ataque, bombas lançadas em área residencial, sem falar nos soldados. Eles também são pai, irmão, filho morrendo para defender sua terra, sua nação. Todos nós estamos sem chão”, desabafa
Para ela, a cultura ucraniana ensinada por seus parentes foi essencial em sua formação como pessoa. “Nossos didos e babas (avós e avôs) ucranianos se estabeleceram no interior do Brasil, principalmente no Paraná. Eles sempre nos ensinaram a falar a língua materna ucraniano, muitas palavras soltas que usamos até hoje entre família, como chamar tio de vuiko e tia de tchotcha, a cantar, suas histórias. Ensinaram sobre a cultura, a religião, a fé e, também, sobre a culinária, sempre presente em nossas mesas.”
No fim da conversa com o Correio, Yana concluiu: “A Rússia está tirando tudo deles, suas casas, suas vidas, suas famílias. Nosso coração dói, sangra junto com os deles, uma parte de nós também morre junto com as vítimas”.
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Mantendo a tradição
A secretária de Turismo da cidade, Cristiane Boiko Rossetim, também descendente de ucraniano, contou que, pelo fato de a cidade abrigar uma quantidade considerável de descendentes, soube preservar a cultura, a religiosidade e, principalmente, a língua e os costumes. “A igreja foi um fator determinante. Aqui, a cultura é preservada na língua e no trabalho dos padres, religiosas e catequistas, que ensinam a língua e as tradições trazidas pelos imigrantes”, explicou.
Ela contou, ainda, que o município tem um acordo de cidade irmã com Ternopil, na Ucrânia, cidade de onde vem a maioria dos ucranianos de Prudentópolis. No município, a língua ucraniana se tornou oficial neste ano. Além do português, ela também pode ser utilizada em documentos e materiais diversos.
*Estagiários sob a supervisão de Sibele Negromonte
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