VIOLÊNCIA POLICIAL

Policial militar de folga mata vendedor de balas próximo a estação no RJ

Testemunhas afirmaram que o agente começou a discutir após o trabalhador autônomo oferecer os produtos que vendia a ele. PM nega

Correio Braziliense
postado em 14/02/2022 22:46 / atualizado em 14/02/2022 22:47
 (crédito: Raoni Alves/g1 Rio)
(crédito: Raoni Alves/g1 Rio)

O vendedor de balas Hiago Macedo de Oliveira, de 22 anos, foi morto por um policial militar à paisana, Carlos Arnaud Baldez Silva Júnior, na tarde desta segunda-feira (14/2), em frente à estação das barcas no centro de Niterói, no Rio de Janeiro. De acordo com o G1, testemunhas afirmaram que o agente começou a discutir após o trabalhador autônomo oferecer os produtos que vendia a ele.

No entanto, a Polícia Militar disse, em nota, que o policial, que estava de folga, reagiu a uma tentativa de roubo na Praça Arariboia. A corporação afirma que Hiago era um dos envolvidos na suposta ação criminosa citada pela PM e que ele “teria investido contra sua integridade, sendo atingido por disparo de arma de fogo”. A atuação de Carlos será analisada pela 4ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM).

Após o disparo, Hiago permaneceu imóvel no chão. Policiais da Delegacia de Homicídios, guardas municipais e o Corpo de Bombeiros foram acionados. No entanto, ele não resistiu ao ferimento. "Quando os policiais chegaram no local, meu primo ainda estava com vida. Então, se tivessem retirado ele o mais rápido possível, dava para salvar a vida dele, mas infelizmente é vendedor de bala, é só mais um", lamentou Jonathan César, primo do rapaz.

O autor do disparo, Carlos Arnaud, foi levado para a 76ª Delegacia de Polícia de Niterói e depois para a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG). Ele possui licença para arma de fogo. Questionado pelo G1 em frente à Delegacia, ele disse que não poderia falar, a não ser “mediante ordens do meu superior, que é o comandante do 7º BPM (Batalhão de Polícia Militar)”.

A DHNSG informou que testemunhas são ouvidas e imagens de segurança instaladas no local serão solicitadas para a investigação ser concluída. De acordo com a família, Hiago teve um passado conturbado, com práticas de crime, mas decidiu mudar de vida após ter uma filha.

Hiago Macedo saiu para trabalhar para custear festinha de dois anos da filha. Ele e a mãe da menina já tinham conseguido pagar o salão onde ocorreria a celebração
Hiago Macedo saiu para trabalhar para custear festinha de dois anos da filha. Ele e a mãe da menina já tinham conseguido pagar o salão onde ocorreria a celebração (foto: Reprodução/G1)

"Ele abandonou a vida errada pra ter uma vida boa, largou o crime. E hoje em dia vende bala para sustentar a filha de dois anos, que daqui a quatro dias vai fazer aniversário. Ele saía todo dia às 5 horas da manhã para fazer o aniversário da filha. Era o sonho dele dar essa festa para a filha", disse o primo.

Jonathan ainda deu a versão dele dos fatos, de acordo com o que descobriu. “Ele foi abordar uma pessoa para vender bala e nisso o rapaz chamou ele de ladrão, falou que ele ia abordar pra vender bala e roubava o celular no bolso da pessoa. O policial ao lado ouviu e foi discutir com o meu primo”, contou.

“Meu primo é sujeito homem, debateu com ele de boca a boca. Ele meteu a mão na arma e deu um tiro só”, relatou. Ele ainda fez um apelo para que a polícia veja as imagens das câmeras de segurança.

Protestos, choros e lamentos marcam a morte de Hiago

Após o ocorrido, pessoas presentes no local tentaram bloquear o acesso e fechar o trânsito, e chegaram a incendiar um colchão na pista, mas a ação foi barrada por policiais. Em seguida, familiares e amigos chegaram ao local para protestar. Eles cobravam os policiais que cercavam o corpo de Hiago.

Durante os protestos, um homem atirou um objeto na direção dos policiais e os agentes reagiram com spray de pimenta em todos os presentes. Quatro pessoas foram detidas.

A esposa de Hiago, Thais Conceição de Oliveira Santos, diz que quer justiça pelo marido. Ela afirma que os dois planejavam a festa da filha e que, agora, a menina completará dois anos e não terá, nunca mais, a presença do pai.

"A gente tava planejando a festinha da neném, já tínhamos pago o salão. Hoje ele saiu pra trabalhar e não cometeu crime nenhum. Ele tava com uma caixa de doce na mão. Eu não sabia que vender bala hoje era um crime. Ele tava trabalhando. A minha filha vai fazer dois anos e sem pai", contou.

Thais Conceição, esposa de Hiago, pediu justiça e afirma que quer o policial, Carlos, preso
Thais Conceição, esposa de Hiago, pediu justiça e afirma que quer o policial, Carlos, preso (foto: Raoni Alves/g1 Rio)

Ela pediu a prisão do policial e diz que mesmo com testemunhas, Carlos andava livre em frente a delegacia. "Eu quero justiça. Que isso não fique impune. Que esse homem seja preso. Que ele não fique preso, igual quando eu cheguei aqui na delegacia e ele tá do lado de fora, andando pra lá e pra cá", disse.

Já a irmã de Hiago, Andreza Bernardes, diz que não importa o que ocorreu, “nada justifica" o irmão ter sido baleado por Carlos. Ela conta que o irmão é um pouco nervoso e que pode ter discutido, mas que “independente de qualquer ignorância que ele tenha feito, a segurança pública tinha que ter resolvido sem interromper a vida dele”.

“Ele tava feliz com a filha dele. Tava procurando emprego e por enquanto vendendo doce. Interromperam a vida do meu irmão, nada justifica, independente do que aconteceu. Triste saber que um menino jovem morreu assim dessa forma”, lamentou.

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    Hiago Macedo saiu para trabalhar para custear festinha de dois anos da filha. Ele e a mãe da menina já tinham conseguido pagar o salão onde ocorreria a celebração Foto: Reprodução/G1
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    Thais Conceição, esposa de Hiago, pediu justiça e afirma que quer o policial, Carlos, preso Foto: Raoni Alves/g1 Rio
  • Avó de Hiago se desespera ao ver o neto sem vida no local da morte
    Avó de Hiago se desespera ao ver o neto sem vida no local da morte Foto: Raoni Alves/g1 Rio
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