A vacinação de crianças contra a covid-19 ainda não adquiriu um ritmo uniforme no país e fatores como desinformação, problemas na distribuição de imunizantes e até mesmo a alta taxa de transmissão e aumento dos casos positivos são citados pelos especialistas para o avanço a passos lentos. A campanha de imunização dos menores teve início há quase um mês, depois da aprovação da vacina para o público infantil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Em conversa com o Correio, o presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Renato Kfouri, acredita que esse início lento de imunização das crianças se deve à pouca quantidade de doses disponíveis de vacinas pediátricas. "Poucos estados receberam uma grande quantidade de vacinas. Além disso, a campanha começa pela convocação de grupos específicos, como a população ribeirinha, crianças com deficiência, e nesses casos a vacinação é sempre mais lenta. Então, isso explica a lentidão de muitos locais", avalia.
A Anvisa aprovou o uso da vacina pediátrica da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos, e também da CoronaVac na faixa etária de 6 a 17 anos. No entanto, diante do atraso da incorporação dos imunizantes do público infantil, as primeiras doses da Pfizer só chegaram ao Brasil um mês depois da aprovação da agência.
O governo federal distribuiu aos estados aproximadamente 9,3 milhões de vacinas pediátricas, sendo 6 milhões da Pfizer e 3,3 da CoronaVac. A quantidade é pouco mais da metade das doses necessárias para imunizar cerca de 20,5 milhões de pessoas, entre 5 e 11 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Além da falha na logística da distribuição de vacinas, que fez com que algumas cidades paralisassem a distribuição de doses infantis, Kfouri ainda ressaltou que a situação epidemiológica do país, com a alta de casos positivos de covid, fez com que muitos pais adiassem a imunização dos filhos.
"A gente tem muitos pais e crianças infectados, que precisam aguardar 30 dias para tomarem a vacina. Isso também atrapalha a cobertura", observa.
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Ele acredita, também, que a comunicação dúbia feita pelo Ministério da Saúde em relação a vacinação de crianças prejudica o avanço da campanha. Mas o impacto desse fator só poderá ser medido mais claramente quando a vacinação infantil estiver no final.
"Esse impacto das notícias falsas e da hesitação aparece quando você bate um teto de cobertura vacinal e não consegue mais ultrapassar. Mas ainda estamos longe disso", afirma.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso enviou, ontem, ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) um pedido de apuração contra o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, por suposta omissão na vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a covid. A decisão foi tomada após o magistrado analisar uma ação que apontou a omissão do presidente Jair Bolsonaro e de Queiroga na imunização infantil.
Barroso entendeu que não é competência do STF julgar o caso, já que não cabe ao chefe do Poder Executivo operacionalizar a campanha de vacinação contra covid-19. "No âmbito federal, os atos específicos relacionados à execução do PNI (Programa Nacional de Imunizações), como a compra e a disponibilização de vacinas, são atribuições do Ministério da Saúde. Uma vez que a competência para executar a política pública é atribuição de outras autoridades, não é possível imputar suposta ação ou omissão diretamente ao presidente da República", salientou o ministro.
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