Violência

Agressor de congolês: "Foi uma fatalidade"

Maria Eduarda Angeli*
postado em 02/02/2022 00:01

Um dos suspeitos envolvidos na morte do congolês Moïse Kabagambe, 24, prestou depoimento, ontem, na Delegacia de Homicídios (DH) do Rio de Janeiro. Ele se apresentou na 34ª DP, em Bangu, e afirmou que "ninguém queria tirar a vida dele". O congolês foi assassinado no último dia 24, depois de cobrar salário atrasado. Kabagambe foi espancado por cinco pessoas durante aproximadamente 15 minutos. O crime ocorreu ao lado do quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca.

As agressões foram registradas por câmeras de segurança do local. Testemunhas contaram que a vítima sofreu agressões com pedaços de madeira e um taco de beisebol. O corpo foi encontrado por policiais militares do 31º BPM, amarrado próximo ao quiosque.

"Ninguém queria tirar a vida dele, ninguém quis fazer injustiça porque ele era negro ou alguém devia a ele", alegou Alisson de Oliveira, 27, em depoimento à polícia. "Ele teve um problema com um senhor do quiosque do lado, a gente foi defender o senhor, e, infelizmente, aconteceu a fatalidade de ele perder a vida", contou. O homem foi liberado depois do depoimento, sob a justificativa de que não havia mandado de prisão contra ele.

Segundo o laudo do Instituto Médico Legal (IML), a causa da morte foi traumatismo do tórax, com contusão pulmonar, causada por ação contundente. Moïse estava no Brasil desde 2014, quando veio com a família para fugir da guerra e da fome na República Democrática do Congo.

Comoção

O crime causou comoção. Nas redes sociais, a hashtag #JustiçaPorMoise alcançou os trending topics do Twitter. A ONG Human Rights Watch classificou a tragédia como "deplorável e merece o mais absoluto repúdio pela sociedade brasileira". "Que este não seja mais um caso da impunidade que tem marcado o Rio de Janeiro", reivindicou a organização.

Cláudio Castro (PL), governador do Rio de Janeiro, prometeu punição. "Vamos prender esses criminosos e dar uma resposta à família e à sociedade", disse. O prefeito Eduardo Paes (PSD) afirmou que o episódio é "inaceitável e revoltante" e assegurou que a prefeitura acompanha o caso.

Na segunda-feira (31), a embaixada do Congo, em Brasília, denunciou, em nota, outros casos de assassinatos de congoleses no Brasil. "Informamos que neste momento temos quatro outros casos de compatriotas que foram brutalmente assassinados neste país, e aguardamos os resultados das investigações", disse o texto. A nota também mencionou o possível encerramento das atividades de mineração por parte dos brasileiros no Congo.

A comunidade congolesa no Brasil e familiares de Moïse planejam uma manifestação no posto 8 da Barra da Tijuca. A mobilização está prevista para o próximo sábado (5), pela manhã. "Esse ato brutal, que não somente manifesta o racismo estrutural da sociedade brasileira, mas claramente demonstra a xenofobia dentro das suas formas contra os estrangeiros. Nós da comunidade congolesa não vamos nos calar", protestou a comunidade, em nota.

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