Telmo Santos, um morador de Santo Antônio da Patrulha, no Rio Grande do Sul, registrou uma imagem que circulou em diversos grupos no facebook e despertou a curiosidade dos internautas. Na foto, inúmeras cobras-verde estão penduradas num galho de um pé de mexerica. O fenômeno, segundo biólogos, se chama “agregação reprodutiva”.
O registro foi parar na revista Herpetological Review, que reúne informações fundamentais para a compreensão da biologia das serpentes. Na nota científica publicada, as biólogas Karina Banci e Silara Batista explicam que a agregação reprodutiva “ocorre justamente no período reprodutivo e o objetivo é o sucesso da reprodução da espécie por meio da cópula”. Nesse momento, a fêmea exala hormônios sexuais e acaba atraindo muitos machos ao mesmo tempo por uma fêmea, só para tentar copular.
Mesmo o feromônio atraindo os machos, que se aglomeram ao redor da fêmea, segundo o registrado na nota científica, apenas um ou poucos machos conseguem efetivamente copular. “Isto acontece porque, ao terminar a cópula, o macho secreta uma substância gelatinosa, chamada ‘plug copulatório’, que acaba bloqueando a cloaca da fêmea por algumas horas ou poucos dias, tempo suficiente para os outros machos dispersarem. Dessa forma, garantem a paternidade — ainda que (a) paternidade múltipla seja bem comum em serpentes”, completou Banci.
A vantagem desse ‘cacho’, se torna justamente a ‘competição’ para ver qual dos machos vai ganhar a fêmea. Assim, as chances de sucesso reprodutivo, uma vez que, ao promover a agregação, “a fêmea induz, indiretamente, uma seleção sexual. De acordo com a teoria, ela escolhe machos com maior ‘fitness’ reprodutivo, ou seja, indivíduos maiores, mais vistosos e mais saudáveis”, explicou o periódico. “O benefício para a espécie é que as fêmeas produzirão filhotes de machos que têm maior probabilidade genética de gerar filhotes saudáveis e adultos com sucesso reprodutivo”, completou Silara.
O curioso é que esse fenômeno é inédito entre a espécie de cobra-verde. O caso mais clássico desse comportamento é com a cobra-liga-comum, uma espécie norte-americana que costuma hibernar no inverno. “Quando chega a primavera os machos saem primeiro e, na saída das fêmeas, se agregam na tentativa de copular”, detalhou a bióloga Silara, na revista.