A imunização contra a covid-19 de crianças no Brasil ganhou um reforço, ontem, com a aprovação do uso emergencial da CoronaVac contra a covid-19 para crianças e adolescentes de 6 a 17 anos que não tenham baixa imunidade. A liberação foi decidida por unanimidade pela diretoria colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Porém o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, não deu certeza se comprará a vacina — disse apenas que será "considerada".
A aprovação da Anvisa atende, em parte, o pedido do Instituto Butantan — fabricante da CoronaVac —, feito em dezembro do ano passado, para aplicação em crianças a partir de 3 anos. Ao deixar de fora crianças de 3 a 5 anos, a agência justificou que ainda faltam dados clínicos da aplicação nesta faixa etária para que seja possível liberá-la.
"Especificamente para a faixa etária de 3 a 5 anos, devido a uma maior escassez de dados clínicos quando comparada aos outros subgrupos e as limitações nos dados de farmacovigilância, as incertezas quanto ao perfil de segurança ainda são evidentes", explicou a diretora que relatou o pedido do Butantan, Meiruze Freitas.
A aplicação em crianças e adolescentes será em duas doses, com intervalo de 28 dias entre elas, assim como é feito com os adultos que recebem a mesma vacina. Crianças com baixa imunidade — que tenham HIV ou estejam em tratamento contra câncer, assim como as que tenham sido transplantadas — não receberão a CoronaVac.
A Gerência-Geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Anvisa indicou, ainda, que a vacina aplicada em crianças seja a mesma dos adultos — com a mesma dose e a mesma posologia.
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Resposta vaga
Ao saber da liberação da CoronaVac pela Anvisa, o ministro Marcelo Queiroga disse que a vacina será "considerada" para o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra Covid-19 (PNO). "Todas as vacinas autorizadas pela Anvisa são consideradas para o PNO. Aguardamos o inteiro da decisão e sua publicação no DOU (Diário Oficial da União)", publicou numa rede social.
Novamente, Queiroga evitou se colocar contra Jair Bolsonaro — que há tempos critica a CoronaVac por ser produzida por uma instituição científica ligada ao governo paulista, que tem seu inimigo João Doria à frente. O presidente, várias vezes, disse que o imunizante jamais seria comprado pelo governo federal e chegou até a desmentir o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que anunciou que havia um contrato para a obtenção do imunizante produzido pelo Butantan.
Indagado sobre os planos de compra e distribuição do imunizante aos estados, o ministério informou que a posição da pasta é a mesma informada por Queiroga. O Butantan assegurou que não houve manifestação da pasta para comprar a CoronaVac.
Na sessão que aprovou a CoronaVac, chamou a atenção a nova crítica do diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, a Bolsonaro — que levantou suspeitas sobre supostos interesses da agência em dar aval à vacinação infantil —, apesar de não citá-lo nominalmente. Segundo ele, é "impressionante ver que em meio a um cenário que aponta claramente para os efeitos do avanço da variante ômicron ainda há pessoas que dizem que a pandemia está acabando, que a chegada da variante sinaliza tempos melhores". E prosseguiu:
"Quero saber o que as pessoas disseminadoras de fake news vão fazer com o número do aumento de mais de 70% de internações de crianças em UTIs no dia de hoje. Será que os disseminadores de fake news vão noticiar isso também? Penso que não, porque não interessa ao disseminador de fake news", atacou Barra Torres.