Depois de meses de relutância do governo federal, a enfermeira Mônica Calazans foi a primeira brasileira a receber uma dose da CoronaVac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, contra a covid-19. Há um ano, em 17 de janeiro de 2021, o país assistiu à aplicação da primeira injeção, em um evento no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, horas depois de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovar o uso emergencial do fármaco.
Hoje, o Brasil ofereceu aproximadamente 343 milhões de doses contra a doença. Atualmente, o país se aproxima do patamar de 70% da população vacinada com as duas aplicações, enquanto 15% já receberam o reforço, segundo dados do painel Monitora Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
O governo federal, porém, continua ajudando pouco na vacinação. O presidente Jair Bolsonaro faz vários ataques ao imunizante pediátrico que vem sendo dado agora, mas, há um ano, era apologista da cloroquina e da ivermectina como soluções contra a covid-19. Outros personagens do Poder Executivo chegaram a desdenhar da urgência da aplicação das doses. Como o então ministro das Saúde, Eduardo Pazuello, que durante apresentação do Plano Nacional de Operacionalização da Vacina contra a Covid-19, em 16 de dezembro de 2020, não pareceu preocupado com a chegada das vacinas e o começo do processo de imunização.
"Para que essa ansiedade, essa angústia?", indagou. Já ali, o Ministério da Saúde havia ignorado os vários contatos da Pfizer para o oferecimento de vacinas. Isso foi levantado em detalhes pela CPI da Covid, que trouxe à tona todo o trabalho feito pelo governo contra a vacinação.
Com entraves burocráticos e políticos, que confundiam a população e prejudicavam o desenvolvimento do Plano Nacional de Imunização (PNI), o processo seguiu avançando de forma gradual. O Brasil atingiu a marca de 100 milhões de pessoas totalmente vacinadas contra a covid-19 em 13 de outubro de 2021.
O resultado disso é óbvio: redução na quantidade de casos e mortes pela covid-19. Para o médico infectologista Werciley Júnior, a cobertura vacinal brasileira progrediu e trouxe bons resultados, mas teve falhas.
"As compras de vacina que não foram numa velocidade condizente. Depois, a dificuldade com a importação de insumos, principalmente para produção da vacina do CoronaVac e da AstraZeneca no território brasileiro. Também podemos dizer que, quando a gente fala da capilaridade, nós não atingimos a meta de muitas cidades", apontou.
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Desigualdade
Isso é o que o painel Monitora Covid-19 descobriu — que existe uma desigualdade na vacinação. O estudo, divulgado em dezembro do ano passado, apontou que o Índice de Desenvolvimento Humano foi fator preponderante para a discrepância na imunização no país. Ou seja: locais com baixo IDH têm taxas de cobertura mais baixas.
"Apenas 16% dos municípios do Brasil apresentam mais de 80% de sua população com o esquema vacinal completo. Em 2020, o processo de chegada e interiorização provocou epidemias distintas no tempo à medida que a doença avançava no território. A falta de dados dos sistemas de vigilância e monitoramento da doença devido a problemas e instabilidade dos sistemas de informação do Ministério da Saúde impossibilita antecipar, planejar e direcionar intervenções", diz a nota técnica do estudo.
Mas a luta contra o novo coronavírus não está ganha. Ao contrário: com a chegada da ômicron, percebeu-se que a vacinação, apesar da importância, não é suficiente para evitar o avanço da nova cepa — os especialistas insistem que ainda não é possível abrir mão das máscaras ou ignorar a necessidade de se manter o isolamento social. Na semana epidemiológica entre os dias 2 e 8 de janeiro de 2022, foram registrados 208 mil casos, de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Nesse período, o país registrou 832 mortes provocadas pela doença.
*Estagiária sob supervisão de Fabio Grecchi