Em busca de um imunizante contra a covid-19 100% nacional, o Brasil conta com pelo menos 20 projetos que tocam pesquisas para produção de uma vacina. Entre os destaques estão o do Instituto Butantan, que trabalha na Butanvac, e o desenvolvido pela empresa de biotecnologia Farmacore e pela Universidade de São Paulo (USP), que trabalha na Versamure. Além dessas, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também corre para criar seu próprio fármaco.
Tanto a Butanvac como a Versamure estão nas fases 1 e 2 de testes — a da USP tem previsão de testagem em humanos no próximo mês. Já a vacina da Fiocruz, das três, é a que pode ter IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) totalmente nacional — conforme liberou a Anvisa, em dia 7 de janeiro, depois de o laboratório da Bio-Manguinhos ter recebido a Certificação de Boas Práticas de Fabricação em maio de 2021. Na última sexta-feira, a fundação iniciou a fase final do processo para produzir o insumo.
A CEO da Farmacore, Helena Faccioli Lopes, explica que houve atraso na produção por conta de uma demora na entrega de material vindo dos Estados Unidos — cerca de seis meses a mais do que o esperado. Ainda assim, ela aposta na obtenção da autorização para uso emergencial até o final do ano.
Além da vacina tradicional, a USP também investe em um imunizante em spray, que está em fase pré-clínica e aguarda o aval da Anvisa para seguir nos testes. O medicamento tem tudo para chegar à população em 2023, visto que o processo foi atrasado pela realização de um estudo toxicológico solicitado pela agência.
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Baixo custo
Outra proposta é a vacina de baixo custo desenvolvida pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) com a Fiocruz, a 2H120 Defense. Os estudos das duas instituições asseguram que 250 doses do imunizante podem chegar a custar apenas R$ 11. A importação de agentes, porém, tem jogado contra o desenvolvimento do produto.
O Ministério da Saúde afirma ter destinado, até o momento, mais de R$ 98,5 milhões em recursos para pesquisas relacionadas a vacinas contra o novo coronavírus. O valor, porém, não é o suficiente para cobrir todo o desenvolvimento do imunizante, o que leva os cientistas a se associarem ao setor privado.
A pandemia serviu para mostrar a fragilidade brasileira na questão do desenvolvimento de vacinas, conforme aponta o infectologista Julival Ribeiro. Para ele, um país com tamanha extensão territorial não pode depender de insumos externos. “O governo precisa investir pesadamente na área de tecnologia e, aqui no caso particular, em relação à vacinação. O que falta, na realidade, é uma coordenação nacional em relação a esse tipo de investimento. Além disso, o governo e a iniciativa privada precisam dar prioridade para essa área de alta tecnologia”, salientou.
*Estagiárias sob a supervisão de Fabio Grecchi