MEMÓRIA

Há um ano o Amazonas vivia o pior momento da crise de covid-19 no Brasil

Silêncio marca lembrança da crise do oxigênio do Amazonas. Cenas de desespero continuam na memória

Há um ano, o sistema de saúde do Amazonas colapsava duplamente devido à pandemia de covid-19. Dois fatores foram fundamentais para a tragédia: o negacionismo das autoridades do estado e de Manaus, que, apesar do avanço da pandemia, estimularam o descumprimento das medidas de isolamento social no final de 2020 — atitude elogiada por deputados como Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Bia Kicis (PSL-DF) e Osmar Terra (MDB-RS) — e o desabastecimento de oxigênio hospitalar, crise para a qual o governo federal custou a reagir e levou a indiciamento de políticos amazonenses e personagens do Ministério da Saúde pela CPI da Covid no Senado.

O saldo de todo aquele desespero, segundo o Ministério Público e a Defensoria Pública amazonenses, foi a morte por asfixia de mais de 60 pessoas em todo o estado. Para não terem o mesmo destino, aproximadamente 500 pacientes foram transferidos às pressas para hospitais de outros estados que podiam oferecer ventilação artificial. Apenas o Amazonas contabiliza mais de 13,8 mil mortes em decorrência do coronavírus.

Ainda estão gravadas na memória as imagens de parentes de pessoas internadas correndo desesperadas em busca de balões de oxigênio para evitar que morressem "afogadas no seco". A reação do governo federal para suprir os hospitais com o item básico só ocorreu depois de vários alertas da possível catástrofe ao Ministério da Saúde. Da mesma forma, circula pelas redes sociais imagens de uma comitiva da pasta orientando técnicos da Secretaria de Saúde de Manaus a prescreverem o "kit covid" — a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, que ainda auxilia o ministro Marcelo Queiroga, chegou a afirmar que era "inadmissível" a não adoção da orientação para o uso de cloroquina e ivermectina.

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Comentários

Da parte das autoridades, silêncio ou tergiversação. Ao completar um ano da tragédia, o governador Wilson Lima (PSC) preferiu divulgar ações e resultados nas redes sociais. "Abrimos mais 74 novos leitos, sendo 54 clínicos e 20 de UTI. Esses leitos são destinados para pacientes com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), nesse primeiro momento. Com isso, ampliamos nossa capacidade de atendimento e deixamos a rede livre para receber os casos de covid-19 que precisem de internação", escreveu.

Lima acrescentou que não crê que "teremos uma terceira onda (de covid). Hoje, o estado está muito mais preparado, juntamente com a prefeitura da capital e do interior. É uma situação que a gente consegue manter sob controle.

Já o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), fez um apelo à população de que "encare a vacinação como a principal arma para combater a pandemia do novo coronavírus". "Em matéria de saúde, não ouçam seu líder religioso, nem sua preferência política. Cuide da sua família, cuide da sua saúde, cuide da sua vida. Procurem um centro de saúde da prefeitura ou do Estado. Lembrando: a vacina salva vidas", defendeu.

Já o Ministério da Saúde tangenciou a crise de Manaus de um ano atrás ao afirmar que "hoje não enfrentamos mais problemas de desabastecimento" de oxigênio. Além de garantir que o abastecimento nos hospitais está fortalecido, salientou que a quantidade entregue será o suficiente para suprir a demanda.

"Entregamos usinas de oxigênio para ajudar a suprir a demanda pelo insumo nas redes hospitalares em vários estados. Hoje não enfrentamos mais problemas de desabastecimento. Nós continuamos atentos e monitorando para agir rapidamente caso qualquer cidade brasileira venha a sofrer com problemas de abastecimento de oxigênio, inclusive Manaus", explicou a pasta, por meio de nota.

*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi