O ministro Marcelo Queiroga, da Saúde, sentiu o golpe por São Paulo ter saído na frente na vacinação infantil contra a covid-19 em todo o país e ter realizado uma cerimônia nos mesmos moldes da que fez quando da aplicação do primeiro imunizante contra o novo coronavírus — na enfermeira Monica Calazans, do Hospital Emílio Ribas, que recebeu a CoronaVac num momento em que o governo federal boicotava a urgência na obtenção dos fármacos. Queiroga foi para uma rede social criticar o governador paulista, João Doria, por participar do evento de ontem e acusá-lo de fazer política com a dose pediátrica.
"O político @jdoriajr subestima a população. Está com as vacinas do @govbr e do povo brasileiro em mãos fazendo palanque. Acha que isso vai tirá-lo dos 3%. Desista! Seu marketing não vai mudar a face da sua gestão. Os paulistas merecem alguém melhor", publicou.
O ministro é apontado como candidato a um cargo eletivo pela Paraíba, nas próximas eleições, e nos últimos meses vem sendo duramente criticado por abandonar a postura técnica para se alinhar integralmente a Jair Bolsonaro — de quem pretende obter apoio para entrar na vida pública. Já em São Paulo, o presidente da República praticamente lançou o ministro Tarcísio Gomes de Freitas, da Infraestrutura, para a disputa ao Palácio dos Bandeirantes, no pleito de outubro.
Nas pesquisas de opinião, porém, Bolsonaro apresenta mau desempenho, algo que pode contaminar quem ele pretender apoiar eleitoralmente. Todos os levantamentos têm apresentado o presidente com algo em torno de 22% do voto popular.
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Entraves
Queiroga, aliás, foi acusado de retardar a vacinação pediátrica, inclusive colocando como condição para a tomada de decisão do ministério uma audiência pública — na qual se abriu espaço para personagens contrários à imunização de crianças, levados pela deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF). Isso tudo porque não queria desagradar Bolsonaro, que vem atacando a aplicação das doses pediátricas. No final, a pasta reconheceu a urgência e a necessidade de se imunizar o público entre 5 e 11 anos.
Porém, na rede social, o ministro desconheceu os entraves que impôs para a chegada das doses. "As vacinas pediátricas chegaram ao Brasil em tempo recorde! Logo após autorização da agência reguladora, a farmacêutica começou a produzir as doses e garantiu que esse era o melhor cronograma possível. O Ministério da Saúde garante que todos os pais que quiserem vacinar terão vacinas!", afirmou.
Doria ignorou as críticas de Queiroga, mas não deixou de atacar Bolsonaro. Acusou o presidente de desumanidade ao se colocar contra as vacinas pediátricas. "Lamento como governador, como pai, como cidadão e como brasileiro, as postergações feitas pelo governo federal, através do Ministério da Saúde", disse.