No mês da visibilidade trans, mais um caso de crueldade com pessoas transsexuais é registrado no Brasil. Jasmyne, 20 anos, entrou para as estatísticas após ser morta a facadas por cliente em Tabuleiro do Martins, bairro de Alagoas, parte alta de Maceió. O assassinato aconteceu no último domingo (9/1) e amigas da vítima usaram as redes sociais para cobrar uma atitude da polícia.
Jasmyne saiu na noite deste sábado (8/1) para fazer um programa. Segundo relatos, ela foi vista pela última vez às 22h e o corpo encontrado na manhã de domingo, em um terreno baldio próximo ao local onde garotas de programa costumam trabalhar, na rua Graciliano Ramos, bairro Cidade Universitária. “Minha amiga sofreu vários golpes de faca por aquele maldito assassino que saiu com ela para fazer programa”, relatou Lanna Hellen, amiga da vítima.
Jasmyne foi encontrada com sinais de violência e inúmeras perfurações de facadas pelo corpo, principalmente no rosto, braços, peito e barriga. “Quantas de nós teremos que morrer ainda para chamar atenção da sociedade, do governo, de alguma autoridade que faça alguma coisa pelas mulheres trans?”, questionou Lanna, por meio das redes sociais.
A amiga da vítima aproveitou para cobrar que a polícia investigue o caso. “O caso da nossa amiga Jasmyne vai ser mais um? Em pleno mês da visibilidade trans? Mais uma mulher trans que foi tragada pelo preconceito, foi tragada pela maldade e o governo e a polícia não vão fazer nada?”, indagou. “Mas se a gente tiver que parar, tiver que fazer protesto, se a gente tiver que fazer alguma coisa para mudar essa situação, nós vamos fazer. O caso da Jasmyne não vai ser mais um, demore o tempo que for, a gente vai lutar para desvendar quem é o assassino e essa pessoa vai ser pega”, garantiu a influenciadora trans.
Saiba Mais
País que mais mata pessoas trans
Ano após ano o Brasil segue líder no ranking de países que mais matam pessoas transsexuais no mundo. Dados do projeto Transrespect versus Transphobia Worldwide (TvT) da ong Transgender Europe (TGEU), mostraram que pelo menos 125 travestis, homens e mulheres trans foram assassinados devido a sua identidade de gênero entre outubro de 2020 e setembro de 2021 no Brasil.
As mulheres trans e travestis foram vítimas de 96% dos assassinatos registrados pelo levantamento. 38% das mortes foram cometidas com armas de fogo e 20% por esfaqueamento. 58% das pessoas trans assassinadas eram profissionais do sexo. A pesquisa destaca também as demonstrações de ódios nos crimes. O caso de Jasmyne é a representação fiel dos dados, já que a jovem foi morta com requintes de crueldade.
“No mês da visibilidade trans, estão tirando a vida das nossas irmãs. Elas estão precisando ir para uma pista para fazer um programa e conseguir o pão de cada dia, para conseguir pagar suas contas. Nós somos seres humanos, pessoas. Independente da nossa identidade de gênero, nós queremos emprego, oportunidades, queremos estar fora da prostituição. Recorremos a prostituição porque não temos oportunidade em outras áreas”, afirmou Lanna Hellen.
O mês da visibilidade trans tão comentado pela amiga de Jasmyne, comemorado em janeiro, é dedicado às discussões e ações de visibilidade sobre as pautas de luta da população transexual e travesti no Brasil. A data foi instituída em 29 de janeiro de 2004, quando lideranças do movimento pelos direitos de pessoas travestis e transexuais se reuniram no Congresso Nacional, em Brasília, para lançar a campanha “Travesti é Respeito”. A campanha, promovida em parceria com o Ministério da Saúde, tinha como objetivo incentivar a inclusão social desse grupo.