As chuvas contínuas em Minas Gerais causaram sustos, mortes e estragos nas últimas 24 horas. Um deslizamento em paredão de rochas em ponto turístico de Capitólio, no lago de Furnas, Região Centro-Oeste de Minas, a 276 quilômetros de Belo Horizonte, atingiu quatro embarcações, matou ao menos sete pessoas e deixou dezenas de feridos. Segundo o Corpo de Bombeiros, pelo menos três pessoas ainda estão desaparecidas nas águas e buscas retomam hoje. A Marinha do Brasil abriu inquérito para investigar as causas da tragédia. Um vídeo que circula nas redes sociais mostra o momento em que um grande bloco de pedras desaba na água. Também em Minas, o transbordamento de um dique em Nova Lima interditou a BR-040 e assustou os moradores com o soar das sirenes da barragem.
Houve, ainda, alagamentos e o desabamento de uma casa em Belo Horizonte e uma morte em Betim. Além disso, a situação das estradas no estado está caótica, com interdições nas principais BRs do estado. A Polícia Rodoviária Federal pediu "muito cuidado" e que as pessoas evitem viajar.
O incidente em Capitólio teria começado com uma "cabeça d'água" na região dos cânions, provocando o desabamento de pedras e estruturas rochosas, que atingiram ao menos quatro embarcações — duas afundaram. O Corpo de Bombeiros de Minas Gerais afirmou que a corporação foi acionada por volta do meio-dia por funcionários que trabalham nas proximidades da ponte do Turvo. Eles relataram aos agentes a ocorrência da cabeça d'água na região dos cânions, que teria provocado o rolamento das pedras. As causas do acidente ainda não foram elucidadas.
De acordo com o comandante do Corpo de Bombeiros de MG, coronel Edgard Estevo, as buscas pelos desaparecidos continuam, mas o trabalho dos mergulhadores que atuam no local do acidente foi interrompido no fim da tarde "para segurança das guarnições", disse o coronel.
Os bombeiros calculam que as pedras caíram de mais de cinco metros de altura. O porta-voz do CBMG, tenente Pedro Aihara, informou que entre os mortos três são mulheres e quatro homens. Ninguém havia sido identificado até o fechamento dessa edição. Um dos problemas na identificação dos corpos decorre da falta de documentos das pessoas que se encontravam nas lanchas atingidas pela rocha.
Dos mais de 30 feridos contabilizados, 27 foram atendidos e liberados: 23 deles da Santa Casa de Capitólio e outros quatro da Santa Casa de São José da Barra, a 46 km de Capitólio. Outras quatro pessoas, ao menos, seguiam internadas: duas com fraturas expostas foram para a Santa Casa de Piumhi, a cerca de 23 km do local do acidente; duas seguiam internadas na Santa Casa de Passos, a 74 km de Capitólio; a terceira pessoa que estava internada em Passos foi para um hospital particular — por isso, os bombeiros não têm informações sobre o estado de saúde dela.
O porta-voz do Corpo de Bombeiros também disse que das quatro embarcações que sofreram impacto no momento do desprendimento da rocha, duas foram diretamente atingidas.
Ao menos 40 militares permaneceram no local da tragédia, ontem, entre bombeiros de Passos, que fica 74 km de Capitólio, Piumhi, a 23 km da localidade, além de membros da Marinha, até o anoitecer, com previsão de volta hoje. As guarnições contam com mergulhadores, além de aparato técnico especializado, como o helicóptero Arcanjo 08, equipado com estrutura de evacuação aeromédica para transporte de vítimas em estado grave.
O prefeito de Capitólio, Cristiano Silva (PP), gravou um vídeo se solidarizando com parentes e vítimas da tragédia. "Estamos todos transtornados com esse desastre natural. Estamos em estado de choque e somos solidários com a família dos feridos e mortos", disse ele no vídeo, divulgado na conta da prefeitura no Instagram.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), lamentou o desabamento pelas redes sociais. "Sofremos hoje a dor de uma tragédia em nosso estado, devido às fortes chuvas, que provocaram o desprendimento de um paredão de pedras no lago de Furnas, em Capitólio. O governo de Minas está presente desde os primeiros momentos através da Defesa Civil e Corpo de Bombeiros", publicou. Zema também prestou solidariedade às famílias das vítimas. "Solidarizo com as famílias neste difícil momento. Seguiremos atuando para fornecer o apoio e amparo necessários", escreveu o governador.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) também comentou a tragédia por meio de mensagem publicada no Twitter. "Tão logo aconteceu o lamentável desastre em Capitólio/MG, a Marinha deslocou para a região equipe de socorro da Força. Desde então a Marinha do Brasil vem atuando no resgate de vítimas e transporte de feridos para a Santa Casa local".
Alerta
A Marinha do Brasil informou, por meio de nota, que vai abriu inquérito para apurar as causas do acidente. Segundo nota divulgada pela instituição, a Delegacia Fluvial de Furnas (DelFurnas) deslocou, imediatamente, equipes de Busca e Salvamento (SAR) para o local, a fim de prestar o apoio necessário às tripulações envolvidas no acidente, no transporte de feridos para a Santa Casa de Capitólio, e no auxílio aos outros órgãos atuando no local.
A Defesa Civil de Minas Gerais emitiu alerta de chuvas intensas para o município de Capitólio, com possibilidade de ocorrências horas antes do acidente.
No comunicado, o órgão orientava, ainda, que as pessoas evitassem as cachoeiras no período de chuvas. "Chuvas intensas na região com possibilidade de ocorrência de cabeça d'água nos municípios de Capitólio, São João Batista do Glória e São José da Barra. Evite cachoeiras no período de chuvas. Em emergências ligue 199 ou 193", dizia o alerta.
O órgão deslocou equipes de Busca e Salvamento (SAR), imediatamente para o local, após o ocorrido, para prestar apoio às tripulações envolvidas e no transporte de feridos para a Santa Casa de Capitólio.
Conforme o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), Furnas não tem licenciamento ambiental até hoje. Há alguns anos, o MPMG entrou com uma ação na Justiça. "Se a Lei 15.258, 21/07/2004, que dispõe sobre a exploração econômica do turismo em represas e lagos do estado fosse cumprida, o acidente poderia ter sido evitado", disse uma fonte ao Estado de Minas.
Nova Lima
Um dique da Mina Pau Branco, da Vallourec, transbordou na manhã de ontem, na cidade de Nova Lima, na Grande BH. A água reservada pela estrutura invadiu a BR-040, que liga Belo Horizonte ao Rio de Janeiro. Sirenes foram acionadas e a rodovia teve que ser totalmente interditada.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, o transbordamento aconteceu por causa do excesso de chuva. A corporação informou ainda que não houve rompimento de barragem. A Vallourec e a Prefeitura de Nova Lima disseram o mesmo. Não há registro de mortes. Uma pessoa se feriu, sem gravidade.
Em Belo Horizonte, a Avenida Tereza Cristina alagou no início da tarde de sábado, após o transbordamento do córrego Ferrugem e do Ribeirão Arrudas. Segundo a Defesa Civil de BH, as vias foram bloqueadas antes do alagamento. Pela manhã, o órgão emitiu um alerta de chuva de 120 a 160 mm com raios e rajadas de vento em torno de 50 km/h válido até as 8h de hoje. No início da noite, parte de uma casa caiu no bairro São Pedro. Na cidade de Betim, um homem de 38 anos, morador da região de Citrolândia, ficou soterrado em casa. Ele foi socorrido por vizinhos ainda com vida, mas morreu no Hospital da Colônia Santa Isabel.
*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro