Queiroga: cloroquina é ineficaz para covid

Ministro reconhece, na TV do governo, que substância não serve para o tratamento do coronavírus. Mas pasta que ele dirige não suspende nota técnica que rejeita parecer da Conitec contra a substância

Maria Eduarda Cardim
postado em 26/01/2022 00:01
 (crédito: Igor Evangelista/MS )
(crédito: Igor Evangelista/MS )

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, admitiu, ontem, que a hidroxicloroquina não faz qualquer efeito no tratamento contra a covid-19. A afirmação foi feita durante entrevista ao programa Sem Censura, da TV Brasil, do governo federal.

"Essas medicações foram utilizadas no começo da pandemia e, na época, o uso era chamado de 'uso compassivo' (quando um medicamento é ministrado experimentalmente em pacientes que sofrem de patologias até então sem tratamento no país). Todos usaram. Posteriormente, se viu que, nessas situações, essa medicação não era mais aplicável e foi testada em outros contextos. Essas medicações, inclusive eu já falei, são medicações cuja evidência científica da sua eficácia ainda não está comprovada", reconheceu.

Queiroga ressaltou, durante a entrevista, que cabe recurso contra a nota técnica assinada por Hélio Angotti Neto, secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde — que não descarta o uso da hidroxicloroquina no tratamento do coronavírus. "Em relação a essa portaria do secretário Hélio Angotti, cabe recurso dessa decisão a ele mesmo. Se não houver o acolhimento do recurso, cabe ao ministro da Saúde decidir", explicou.

Tabela retirada

A afirmação do ministro veio no mesmo dia em que o Ministério da Saúde decidiu que a nota de Angotti, que rejeita o parecer da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) contra a adoção do kit covid, será novamente publicada, mas com uma alteração. Será retirada uma tabela que indica que a efetividade e a segurança da hidroxicloroquina contra a covid-19 foram demonstradas por estudos e que a das vacinas, não.

A intenção da mudança, de acordo com o ministério, é "promover maior clareza no conteúdo e evitar interpretações equivocadas, como a de que a decisão critica o uso das vacinas covid-19". A tabela que será suprimida indica que estudos demonstraram que há efetividade e segurança no uso de hidroxicloroquina no tratamento contra a covid-19. O texto assinado por Angotti deduz que "a exigência com tecnologias como a hidroxicloroquina sofreu avaliação mais rigorosa do que aquela feita com tecnologias diferentes".

De acordo com a mesma nota, as vacinas não têm a efetividade e segurança demonstradas em estudos — o que é falso, pois todos os imunizantes aplicados no Brasil passaram por estudos prévios e foram aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A alteração será publicada em portaria no Diário Oficial da União (DOU).

A decisão de alterar a nota veio depois de a pasta receber críticas conteundentes sobre a insistência na manutenção do kit covid. O Comitê Extraordinário de Monitoramento da Covid-19 da Associação Médica Brasileira (AMB) ressaltou que não existem mais dúvidas científicas sobre a não eficácia de hidroxicloroquina/cloroquina, ivermectina e outros medicamentos no tratamento da covid-19.

"É com indignação e urgência que solicitamos ao ministro da Saúde a anulação da Portaria SCTIE/MS nº 4 de 20/01/2022, bem como a pronta aprovação das Diretrizes Brasileiras para o Tratamento Medicamentoso Ambulatorial e Hospitalar do Paciente com Covid-19 na forma em que foram aprovadas pela Conitec", exige a AMB, em nota divulgada na última segunda-feira.

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