O pequeno Gladson Garcia Silva, de 8 anos, em um leito no Hospital Albert Einstein, pediu em uma cartinha de Natal ao Papai Noel, um coração novo. Alguns dias depois, o desejo da criança foi realizado. Ele sofria de uma miocardiopatia e foi o primeiro transplante cardíaco infantil realizado pelo hospital onde estava internado.
A intervenção também foi a primeira feita através do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), uma parceria entre seis hospitais de referência no Brasil e o Ministério da Saúde.
Gladson foi diagnosticado com a cardiopatia apenas dois meses antes do procedimento, no início de outubro. “Descobri da pior forma possível, meu filho podia ter morrido dentro de casa”, contou a mãe do menino, Ana Camila da Silva, de 31 anos. Ela contou ainda que os primeiros sintomas eram semelhantes a uma virose, com vômitos e dor de barriga, e que não passavam.
Quando o Gladson começou a passar mal, a mãe o levou ao hospital São Mateus, na cidade do Espírito Santo onde a família mora. Depois do longo caminho percorrido entre emergências, insistência da mãe por exames e atendimentos, e uma transferência para um hospital de Vitória, veio o diagnóstico. A miocardiopatia, uma condição na qual o coração desenvolve um tamanho maior do que o comum para a idade, não tem cura e apenas um transplante poderia salvar a vida da criança.
O menino foi transferido de Vitória para o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, em uma UTI móvel no dia 16 de novembro, onde ficou a espera de um novo órgão. “Normalmente o transplante cardíaco infantil é uma via final de qualquer tipo de tratamento”, disse o cardiologista do Einstein, Gustavo Foronda.
Ele também destacou a dificuldade em encontrar doadores. “O que a gente tem realmente dificuldade no transplante cardíaco infantil são os doadores, em conseguir o órgão. Culturalmente, uma criança doar um órgão é emocionalmente difícil para a família que acabou de perder o filho, ter essa ideia de doar.”
Foi no dia 11 de dezembro que Ana recebeu a notícia do doutor Gustavo. “Estou te ligando para te dar uma boa notícia, consegui um coração para o seu filho”. A cirurgia deve ser imediata quando um novo órgão aparece, por isso Gladson recebeu um novo coração no mesmo dia.
Gladson teve alta no dia 10 de janeiro e, como o acompanhamento médico ainda é semanal, ainda não tem data para retornar ao Espírito Santo. Mãe e filho estão hospedados na Casa do Coração, uma associação de assistência a crianças e adolescentes cardíacos e transplantados.
“Agora ele está doidinho para andar por São Paulo inteiro, quer ir no zoológico, quer ir ao shopping. Passear mesmo, quer ir à praia. E quer muito ver os irmãos”, contou a mãe, que tem mais três filhos pequenos.
O primeiro transplante feito pelo Einstein e pelo Proadi-SUS também representa um legado para o sistema público. “Tanto para o Einstein quanto para o Proadi-SUS, a partir do momento que a gente faz um procedimento com sucesso como foi feito o do Gladson, isso começa a abrir portas para outras instituições aprenderem com a gente o modo de realização do procedimento. Conseguimos ampliar e difundir esse conhecimento”, disse Foronda.
“Fiquei superfeliz, muito agradecida. Que através do meu filho, outras crianças possam ser beneficiadas e ajudadas”, disse Ana. Ela falou ainda que ter realizado o processo pelo SUS foi essencial, já que não conseguiria arcar com os custos. Os valores dependem do tempo de internação, mas o procedimento pela rede particular pode chegar a meio milhão de reais.
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