Acostumada a festas e baladas regadas a alegria, Capitólio, no Sudoeste de Minas, virou notícia triste ontem (8/1) depois que um deslizamento de parte de um cânion atingiu três lanchas que estavam no lago de Furnas, deixando ao menos cinco mortos e dezenas de feridos. Visitado majoritariamente por turistas de Belo Horizonte e de São Paulo, a cidade, a 276 quilômetros da capital mineira, é o principal destino turístico da região e um dos principais do estado.
Seu principal atrativo é o lago da hidrelétrica de Furnas, com mais de 1.400 quilômetros quadrados de área, que atrai vários turistas que buscam passeios de lancha e mergulhos. A região ainda conta com cachoeiras e cânions formados por rochas com mais de 20 metros de altura. No local, lanchas podem ser alugadas para grupos de oito a 10 pessoas. Além disso, agências de turismo também oferecem opções de passeios em embarcações guiadas.
No lago, só é permitido mergulhar nos pontos onde há os bares flutuantes. A medida foi tomada para proteger banhistas em áreas onde as lanchas circulam. No local do acidente, os mergulhos são proibidos.
Embora seja uma das 34 cidades banhadas pelas águas de Furnas, Capitólio se tornou a mais famosa delas por conta da localização geográfica, que faz com que, mesmo em tempos de seca, o município continue abastecido pela hidrelétrica. Por conta disso, a cidade, que tem cerca de 8.700 habitantes, chega a receber 30 mil visitantes por dia nos fins de semana.
Isso impulsiona a economia local, que também é marcada pela agropecuária e pelo comércio. Em 2019, a cidade foi uma das 17 escolhidas pela Secretaria de Estado de Turismo de Minas Gerais (Setur-MG) como Destino Indutor de Minas Gerais, com os quais seriam trabalhadas estratégias para consolidar o turismo no mercado nacional.
RELAXAMENTO Segundo o guia turístico Shannon Aramys, que atua na região desde 2014, Capitólio é um destino bastante procurado no início devido ao período de férias escolares. Neste ano, a procura aumentou por conta do avanço da vacinação e do relaxamento das medidas contra a COVID-19. No entanto, as chuvas, assim como em diversos municípios do estado, têm castigado a região agora em janeiro.
"Em 2020, as chuvas começaram mais cedo, no início de dezembro. Neste ano, vieram neste primeiro mês de 2022, uma época em que não víamos essa chuva constante. Nessa primeira semana de janeiro, fomos surpreendidos pelo tempo instável em todos os dias da semana", conta Shannon.
Foi por conta da chuva e da instabilidade do tempo que Shannon não estava trabalhando no momento do acidente. O guia turístico cancelou os passeios com clientes que estavam agendados para este fim de semana. Segundo ele, essa foi uma decisão pessoal, que não partiu de uma orientação oficial.
"A gente não recebe nenhum tipo de orientação e cabe a responsabilidade aos guias e condutores de lancha saberem se é um dia propício ou não para fazer passeios", explica Shannon, salientando que em períodos de chuva é comum a ocorrência de “cabeças d'água” no local.
Segundo ele, os principais atrativos de Capitólio são os passeios de lancha, que podem ser realizados em grupo ou ao lado de um guia que acompanha os turistas individualmente, orientando sobre os locais de mergulho e dando informações e curiosidades sobre a região.
VISTORIA Para o guia, o turismo em Capitólio inevitavelmente será afetado pelo acidente. "As pessoas terão medo de visitar a região, principalmente os cânions, por temerem outros desmoronamentos. Acredito que deva ser realizada uma interdição do local e cabe às autoridades fazerem uma vistoria detalhada para evitar esse tipo de acontecimento", ele afirma.
Por outro lado, ele espera que a tragédia faça com que os turistas busquem profissionais qualificados para os passeios na região. "Nossa região tem poucos profissionais realmente capacitados em turismo e credenciados pelo Ministério do Turismo", diz.
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