O Brasil está prestes a ficar às cegas no monitoramento do desmate no Cerrado. Sem verbas, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) fará o acompanhamento até abril. Depois disso, a evolução da degradação do segundo maior bioma da América do Sul será uma incógnita para o País. A equipe técnica responsável por esse trabalho já foi desmobilizada.
A causa é o fim do financiamento de um programa do Banco Mundial, que mantinha o monitoramento funcionando, e os cortes no orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), responsável pelo instituto. Além da importância em biodiversidade, o Cerrado é o local de nascente de importantes bacias hidrográficas do continente sul americano, mas é também uma região sob pressão da expansão agropecuária.
"Sem recursos não há como manter a equipe, mas havendo novos recursos ela pode ser remobilizada", diz Luiz Aragão, chefe da Divisão de Observação da Terra e Geoinformática do INPE. "Mas, o tempo de mobilização é crítico, principalmente para o Deter Cerrado que faz o monitoramento contínuo, mas estamos tentando buscar caminhos para a manutenção."
Não se pode dizer que o fim do financiamento foi uma surpresa para o MCTI.
O projeto FIP Monitoramento Cerrado, mantido com verbas do Banco Mundial, foi iniciado em 2016. Desde então mais de 700 pessoas foram capacitadas e cerca de 30 artigos científicos foram publicados no Brasil e no exterior. Em maio do ano passado, durante evento de treinamento, a representante do banco Bernadete Lange afirmou a coleta e monitoramento de dados sobre o Cerrado teria que prosseguir mesmo sem o auxílio financeiro e que esperava que isso acontecesse com fundos próprios do governo brasileiro. Procurado, o MCTI não se manifestou.
Por definição da gestão do presidente Jair Bolsonaro, a pasta teve corte de 87% em seu orçamento em 2021. A queda foi de R$ 690 milhões para R$ 89,8 milhões, afetando pesquisas de diferentes áreas e cientistas que já contavam com a verba para seus estudos.
O Ministério da Economia decidiu dividir os recursos que iriam integralmente para ciência e tecnologia com outros seis ministérios. O maior beneficiário das mudanças foi o Ministério do Desenvolvimento Regional, que irá receber R$ 252,2 milhões, seguido pela Agricultura e Pecuária com R$ 120 milhões, o Ministério das Comunicações com R$ 100 milhões. A Educação recebeu R$ 50 milhões e a pasta da Cidadania ficou com outros R$ 28 milhões.
A solicitação da Economia foi negociada para atender a interesses de deputados e senadores, que pediram o deslocamento da verba para outras áreas.
Segundo dados do PRODES Cerrado divulgados no último dia 31, o Cerrado perdeu 8.531,44 km² de vegetação de agosto de 2020 a julho de 2021. Essa foi a maior extensão devastada desde 2016. Os estados que mais desmataram foram Maranhão (2.281,72 km²), Tocantins (1.710,55 km²), Bahia (925,11 km²) e Goiás (920,45 km²).
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