Com o avanço da Ômicron e aumento de atendimentos de pacientes com sintomas respiratórios, a Vigilância Sanitária recomendou nesta quinta-feira, 6, que a Prefeitura de São Paulo cancele o carnaval de rua de 2022. A decisão está sendo discutida em reunião com parte do secretariado a partir de um levantamento epidemiológico da covid-19 elaborado pelos técnicos da Saúde, que também recomendaram a criação de protocolos para o desfile das escolas de samba e a exigência de passaporte da vacina para festas de qualquer porte.
"Em função do risco, nós sugerimos que se cancele as atividades de carnaval de rua", disse o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, durante a reunião. "A circulação de uma grande quantidade de pessoas pode agravar esse quadro que temos na cidade."
O secretário destacou que outra sugestão é convocar a Liga das Escolas de Samba para a elaboração de protocolos para os desfiles do sambódromo. Além disso, destacou que a recomendação é exigir comprovante de vacinação em "qualquer evento", não mais apenas nos com público superior a 500 pessoas.
Ao menos 11 capitais cancelaram o carnaval de rua, como Rio, Salvador, Recife e Florianópolis. Na quarta-feira, 5, três organizações ligadas a blocos de rua publicaram um manifesto pelo cancelamento total da festa diante da situação sanitária, com aumento dos atendimentos de pacientes com sintomas respiratórios em meio ao apagão de dados do Ministério da Saúde.
A carta é assinada pelo Fórum Aberto dos Blocos de Carnaval de São Paulo, que representa 195 agremiações, a Comissão Feminina do Carnaval de Rua de São Paulo, integrada por aproximadamente 60 blocos, e a União dos Blocos de Carnaval do Estado de São Paulo (Ubcresp). A possibilidade de realização de celebrações com público restrito, mediante apresentação de passaporte da vacina, em locais fechados, como Interlagos, também foi rechaçada pelos grupos, assim como em clubes e espaços privados.
Para os grupos, a retomada de ensaios no fim de 2021 demonstrou ser inviável a manutenção do carnaval, com a identificação da transmissão da doença nos eventos, mesmo restritos a algumas dezenas de integrantes.
Em meio às indefinições sobre a realização do evento, a Secretaria Municipal das Subprefeituras publicou no Diário Oficial de quarta, o adiamento da data de pagamento do patrocínio do carnaval para 20 de janeiro. O contrato de R$ 23 milhões foi assinado com uma empresa ligada à Ambev.
Em coletiva sobre medidas relacionadas à covid-19, também na quarta, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse que a decisão sobre o carnaval de rua caberá às prefeituras, mas se posicionou contrário à realização. "Não é o momento para aglomerações desta ordem. Portanto, a recomendação é evitar que aconteça."
Já João Gabbardo, coordenador executivo do Comitê Científico do Estado, comentou considerar "impensável manter o carnaval (de rua) nestas condições". "Mesmo o carnaval de desfile, nós temos que ter uma preocupação, porque essas pessoas, para chegar ao local de desfile, vão se aglomerar no transporte coletivo, vai ter aglomeração na entrada, na saída. E isso sempre é um risco e, neste momento, um risco muito alto. E isso tem que ser analisado com essa preocupação."
Antes do manifesto, até 30 de dezembro, ao menos 32 blocos solicitaram o cancelamento de 41 desfiles na cidade, com a principal justificativa relacionada à situação sanitária. A lista inclui blocos de artistas e produtores de popularidade nacional, como Pipoca da Rainha (Daniela Mercury), Bloco do Alok e Bloco do Abrava (Tiago Abravanel), e locais, como Bloco do Temperadinho (Cangaíba, na zona leste), Bloco Perdendo a Linha (Caxingui, na zona oeste) e Localiza Aí BB (Cidade Tiradentes, zona leste). Outros 696 estavam autorizados a desfilar em fevereiro e março.
Como mostrou reportagem do Estadão, parte dos blocos havia se inscrito com hesitação e pretendia decidir se desfilaria apenas perto da data, enquanto outros retomaram os ensaios presenciais e começaram a promover festas.
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