TEMPORAIS

Chuvas na Bahia: Ministro escalado para coordenar ações de enfrentamento tira férias

Ministério do Desenvolvimento Regional diz que o recesso do ministro Rogério Marinho "em nada interferem ou modificam os procedimentos e atendimentos aos Estados afetados".

Maria Eduarda Angeli*João Vitor Tavarez*
postado em 05/01/2022 20:22 / atualizado em 05/01/2022 20:23
 (crédito: Foto: Fernando Vivas/GOVBA)
(crédito: Foto: Fernando Vivas/GOVBA)

O ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, escalado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para ajudar na coordenação do enfrentamento às fortes chuvas no estado da Bahia, acaba de sair de férias, nesta quarta-feira (5/01), e só deve retornar ao trabalho no dia 3 de fevereiro. O despacho foi formalizado no Diário Oficial da União (DOU) da última terça-feira (4/01). Tempestades na Bahia já castigaram quase 170 municípios, contabilizando pelo menos 26 mortes e mais de 100 mil pessoas desabrigados ou desalojados


O afastamento para descanso é especialmente criticado depois que o próprio chefe do Executivo optou por ter um período de férias em Santa Catarina em meio às catástrofes que atingiam a Bahia, em um momento em que o número de feridos e desabrigados seguia aumentando.


O Ministério do Desenvolvimento Regional disse em nota que as férias de Marinho “em nada interferem ou modificam os procedimentos e atendimentos aos Estados afetados”, visto que Daniel de Oliveira Duarte, secretário-executivo, ficou como substituto do ministro durante sua ausência.

Depois de atingir o sul e extremo-sul da Bahia, as chuvas agora seguem para a região oeste do estado. Na noite desta terça-feira (4/01), os temporais chegaram a São Desidério e alagaram um abrigo de idosos, que tiveram que ser resgatados por vizinhos e estão agora alojados na Câmara Municipal da Cidade.

Além do abrigo, o Centro de Convivência do Idoso, o hospital local, centro de saúde e um ginásio de esportes também ficaram debaixo d’água, além de 90 residências. Os dados são da prefeitura de São Desidério.

Pontes e ruas não escaparam dos estragos. Nem o Cemitério Municipal foi poupado: o muro que cercava a propriedade foi destruído e o cenário local é de lama e entulho, que a prefeitura agora trabalha para retirar.

Segundo o último boletim divulgado pela Superintendência de Proteção e Defesa Civil da Bahia (Sudec), o estado acumula 26 mortos pelas chuvas intensas, em 14 cidades. Além dos óbitos, são mais de 100 mil desabrigados ou desalojados e 518 feridos. As tempestades já castigaram quase 170 municípios e, atualmente, 154 estão em situação de emergência.

 

Por que chove tanto na Bahia?

Conforme Andrea Ramos, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), um dos fatores é a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS)- uma extensa faixa de nuvens carregadas –, que tem como característica manter a persistência de chuvas com intensidade fraca, moderada e forte, além de rajadas de ventos e trovoadas.

“Elas duram de três a cinco dias, podendo se estender por mais tempo”, explica. Segundo a especialista, é muito comum a ocorrência de ZCAS no verão. Mas acontecem, também, na primavera. “A permanência dela [zona de convergência] configura as condições de tempo que vivenciamos. Mas essas chuvas vêm até antes, pois na primavera é comum a formação das zonas, sendo que nessa estação foi maior que em anos anteriores”, diz.

Como outro fator, Andrea aponta a convergência de umidade. “É uma faixa que vai desde o oeste do Amazonas até o Mato Grosso, Goiás, de boa parte da região Sudeste e pega uma parcela do extremo-sul da Bahia. É comum a configuração desse corredor de umidade e da ZCAS no verão, mas neste ano a incidência foi maior no Norte, pegando em cheio o sul e oeste da Bahia”, destaca.

A meteorologista afirma que um terceiro ponto é a ocorrência do La Niña, um sistema oceânico-atmosférico que promove um resfriamento na costa do Peru, influenciando na circulação global dos ventos. “Quando atua, o fenômeno, cujo início foi em novembro, gera chuvas mais no centro-norte do país, enquanto que do centro para o sul, reduz”, exemplifica. Por outro lado, diz a especialista, o La Niña traz muita chuva do centro para o Nordeste do Brasil. “Então esses três conjuntos influenciaram diretamente na quantidade de chuvas na Bahia”, concluiu.

Embora a meteorologista do Inmet afirme que as chuvas devem continuar nas próximas semanas, existe a possibilidade dos temporais diminuírem. “As chuvas intensas começam a seguir a rota de outros estados do Nordeste, como Piauí e Maranhão, por exemplo. Aproximadamente até 12 de janeiro, as chuvas vão se concentrar de maneira expressiva no oeste da Bahia”, prevê.

 

*Estagiários sob a supervisão de Pedro Grigori

 

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