Crime

Casal que espancou jovem no MA pode ser indiciado por tentativa de homicídio

Gabriel da Silva Nascimento, de 23 anos, foi atacado dentro do próprio carro, na frente do prédio onde morava

Agência Estado
postado em 03/01/2022 20:04 / atualizado em 03/01/2022 20:04
 (crédito: Reprodução/TV Globo)
(crédito: Reprodução/TV Globo)

A Delegacia de Açailândia, município maranhense a 567 quilômetros da capital São Luís, deve concluir até a próxima semana o inquérito sobre as agressões ao jovem Gabriel da Silva Nascimento, de 23 anos, que foi atacado dentro do próprio carro, na frente do prédio onde morava.

O caso foi revelado pela Rede Mirante, afiliada da Globo no Maranhão, e confirmado pela reportagem do Estadão. O blog apurou que a expectativa é que, tanto o relatório da Polícia Civil quanto o parecer do Ministério Público do Estado, peçam o indiciamento dos agressores por tentativa de homicídio.

Um dos pontos-chave é que, assim como no caso do George Floyd, ex-segurança negro que virou símbolo de luta antirracismo após ser asfixiado até a morte por um policial branco nos Estados Unidos, Gabriel também foi sufocado ao ser imobilizado no ataque.

"Eles pisam no pescoço do Gabriel, depois se ajoelham sobre o pescoço dele. Em um terceiro momento, tem um mata-leão. Então tem um foco nas vias respiratórias. Em nenhum momento eles param, eles são detidos. Ali, tecnicamente, foi uma tentativa de homicídio", explica o advogado Marlon Reis, que foi chamado pelo Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos (CDVDH) de Açailândia para assumir a defesa de Gabriel no processo.

O caso deve ser levado a júri popular, o que na avaliação do advogado terá impacto positivo para ampliar o debate público sobre casos de violência racial. Para o defensor, se trata de um caso claro de racismo. Reis também atuou no Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado pelo Carrefour após o espancamento e morte de João Alberto Silveira Freitas.

"Isso vai abrir um debate sem precedentes. Vai haver uma discussão pública sobre o assunto, a nível de tribunal do júri. O debate social tende a se intensificar nesse caso. É uma oportunidade rara de debate público sobre violência racial", afirma ao Estadão.

As agressões aconteceram na manhã do último dia 18. Os autores do ataque são o empresário Jhonnatan Silva Barbosa e a dentista Ana Paula Vidal, moradora do mesmo prédio de onde Gabriel se mudou após o episódio. Recepcionista de um banco, o jovem estava no carro que comprado há poucos meses e se preparava para sair rumo a uma confraternização do trabalho.

Imagens de câmeras de segurança mostram o momento em que ele é chamado de ladrão e passa a ser agredido pelo casal. Gabriel é derrubado, alvo de chutes, pisões e tapas em uma sessão de espancamento que dura quase três minutos. Ana Paula chega a colocar os joelhos na barriga do jovem, enquanto Jhonnatan pisa em seu pescoço. Os ataques só cessam quando um vizinho avisa que a vítima é moradora do prédio.

COM A PALAVRA, AS DEFESAS

A reportagem busca contato com a defesa de Jhonnatan e Ana Paula. O espaço está aberto para manifestação. Em nota enviada ao programa Fantástico, da TV Globo, a dentista pediu desculpas e negou que tenha sido racista.

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