Uma chamada de emergência feita para a Polícia Militar de Araçatuba (SP) na manhã de quinta-feira (9/12) poderia, para leigos, ser considerada um trote. Ao ter a ligação atendida no 190, uma mulher começou a falar sobre “fazer o cabelo” e a afirmar que a pessoa do outro lado da linha tinha pedido para ela passar o endereço. A ligação de um minuto e três segundos foi entendida pelo atendente como um pedido de socorro, que enviou uma equipe de policiais ao local. A mulher havia sido agredida pelo companheiro, que foi preso em flagrante após confessar o crime.
De acordo com a Polícia Militar, na ligação a vítima estava apreensiva e com pressa. Não é à toa que ela passou o endereço da casa em que estava assim que a ligação foi atendida pelo cabo que estava de serviço Centro de Operações da Polícia Militar do Estado de São Paulo (Copom), responsável por atender as ligações do 190 do estado.
“Não entendi, senhora. Como posso ajudar a senhora”, indagou o policial. “Não, é o endereço. É que você me mandou para fazer o cabelo, mandou para passar o endereço para fazer o cabelo”, respondeu a mulher. Ela não respondeu o nome dela e repetiu o endereço. Pela ligação, é provável que a mulher use a residência como um salão de beleza, termo citado por ela em uma parte do áudio.
Ela também citou, duas vezes, características da casa em que estava. “É fundo, tem um portãozinho, tem até plaquinha”, descreveu. Ao ser questionada se precisava de ajuda da PM, ela respondeu: “pode ser?”. O atendente entendeu o recado e desejou um bom dia. Pouco tempo depois, os policiais fizeram o resgate da mulher.
De acordo com a corporação, quando os policiais chamaram os moradores da casa em que a mulher estava, ela correu até eles e contou que foi ameaçada de morte e agredida pelo companheiro. O homem, que ainda estava no local, foi abordado e preso. A vítima foi levada ao pronto-socorro de Araçatuba, recebeu atendimento e foi liberada.
Confira a transcrição do áudio, obtido pelo G1, com a censura de alguns trechos para proteger a identidade da vítima:
Atendente: Polícia Militar, emergência.
Vítima: oi, é. Trecho de áudio censurado.
Atendente: pois não, senhora.
Vítima: trecho de áudio censurado.
Atendente: não entendi, senhora. Como posso ajudar a senhora?
Vítima: não, é o endereço.
Atendente: ah, entendi. É o endereço da senhora.
Vítima: é que você me mandou para fazer o cabelo.
Atendente: como é o nome da senhora?
Vítima: não, é que você me mandou para passar o endereço para fazer o cabelo. É fundo. Tem um portãozinho.
Atendente: que bairro que é, senhora? Como é que é o nome da senhora?
Vítima: trecho de áudio censurado.
Atendente: que cidade que é?
Vítima: trecho de áudio censurado. É um salão de beleza.
Atendente: a senhora está precisando da Polícia Militar?
Vítima: tá bom?
Atendente: tá bom!
Vítima: pode ser?
Atendente: pode ser.
Vítima: não. É que você me mandou o endereço para fazer o cabelo, e eu estou te passando.
Atendente: endereço para fazer o cabelo? Tá bom, senhora.
Vítima: trecho de áudio censurado. É um portãozinho. Tem até a plaquinha.
Atendente: tá bom, senhora. Disponha da Polícia Militar. Tenha um bom dia.
Vítima: tá bom. Obrigada. Tchau, tchau.
No DF, jovem finge pedir lanche e denuncia estupro para a polícia
Um caso parecido ocorreu em Samambaia, cidade do Distrito Federal, em 18 de outubro. Uma jovem de 19 anos ligou para o 190 e fingiu pedir um hambúrguer. Ela estava em cárcere privado e tinha sido estuprada por um homem de 32 anos.
"Oi, é da hamburgueria?", a mulher questionou quando a ligação foi atendida. Ao ouvir que era da Polícia Militar, ela respondeu assertivamente: "Eu sei, eu queria pedir um hambúrguer". Após passar o suposto pedido, ela deu o endereço e confirmou que estava com pressa para recebê-lo. O policial notou a voz de um homem ao fundo e percebeu que a jovem poderia estar sob ameaça.
Ao chegar no local, a mulher chorava em um quarto. Ela estava há três dias presa na casa do agressor, que era conhecido dela. O homem cumpri prisão domiciliar por outros crimes e foi preso em flagrante.