Com a quarta população mais conectada do mundo, o Brasil possui diversos desafios pela frente na hora de pensar na transformação digital da saúde no país. O diretor do Departamento de Informática do DataSUS, Merched Cheheb de Oliveira, participou do CB Fórum Live — Inovação além do tratamento e abordou quais as perspectivas e os desafios dentro da transformação digital do setor. Para auxiliar a mudança, o governo aposta em um projeto de Estratégia de Saúde Digital para o Brasil, que vai até 2028.
"Para implementar uma transformação digital, você tem que ter uma estratégia. Por isso, em 2020 lançamos a Estratégia de Saúde Digital para o Brasil, um projeto que vai até 2028, além de um governo. Um projeto de país, que não foi feito só pelo Ministério da Saúde", explicou Cheheb, na abertura do segundo painel do fórum, que abordou a eficácia da saúde na era da Inteligência Artificial.
A estratégia tem sete pilares: 1) governança e liderança; 2) informatização dos níveis de atenção; 3) suporte e melhoria da Atenção à Saúde; 4) usuário como protagonista; 5) formação e capacitação de recursos humanos; 6) ambiente de interconectividade e 7) ecossistema de inovação.
Mas, ainda que se tenha uma estratégia e um plano para seguir, Cheheb indica que há desafios à frente. "Nosso desafio é a transformação digital para uma população conectada, que não aguenta não ter coisas digitais, que não aguenta mais não fazer uma solicitação que não seja presencial. Ela tem que ter essa possibilidade", ressalta.
Segundo dados expostos pelo diretor de Informática do DataSUS, são 134 milhões de brasileiros conectados, o que representa 74% da população. Cheheb explicou que, para atender a essa demanda, é necessário entregar um governo totalmente digital.
Rede de dados
O grande passo dado pelo governo em busca da inovação e da revolução digital na saúde é a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), que conecta todo o país. "Não é um sistema de informação, mas uma rede em que integramos os laboratórios, centros de pesquisas, farmácias, gestores. É um grande cartório de dados digitais da saúde", explica.
Para exemplificar como funciona a RNDS, Cheheb pontuou que mais de 392 laboratórios clínicos estão conectados e aptos a enviar resultados de exames para os aplicativos principais. Os principais programas da rede são o ConecteSUS Cidadão e o ConecteSUS Profissional. O aplicativo ficou conhecido nesta pandemia, pois é por lá que a sociedade tem acesso ao comprovante de vacinação contra a covid-19.
Ao todo, já foram incluídas no aplicativo mais de 350 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 e 32,3 milhões de exames do novo coronavírus. Além disso, o ConecteSUS mostra internações do paciente e medicamentos da farmácia popular.
País tem que buscar autonomia no setor
Para o deputado federal Dr. Luzinho (PP-RJ), é cada vez mais premente a necessidade de o Brasil adquirir autonomia na saúde. Para ele, que é médico de formação, a soberania do país no setor se mostrou ainda mais necessária com a pandemia da covid-19. Participante do primeiro painel do CB Fórum Live — Inovação além do tratamento, que tratou sobre a inovação além do produto na indústria farmacêutica, o parlamentar defendeu a aprovação de projetos de lei que facilitem a entrada de empresas estrangeiras para a produção de insumos e materiais de saúde no país.
No evento, realizado pelo Correio Braziliense, com patrocínio da Roche Farma Brasil, o deputado lembrou que o Brasil é o maior comprador do mundo de artigos de saúde. "Para que a inovação científica traga um benefício direto à nossa população, quero acoplar a inovação e o avanço da tecnologia à geração de emprego e renda", salientou.
A fim de unir inovação e vagas no mercado de trabalho, Dr. Luizinho apresentou um projeto de lei, em 2019, para instituir a Estratégia Nacional de Saúde. "Ela faz com que o Brasil possa trazer e considerar empresas estratégicas para a área de saúde. Empresas que venham produzir materiais, medicamentos e insumos, tentando trazer a soberania para o Brasil no campo da saúde", observou.
Ele acrescentou que o país é um mercado que não pode ser desprezado e que seria do interesse de todos os gigantes do setor de saúde. "Somos o grande comprador do mundo. Podemos garantir que empresas venham se instalar no nosso território, tragam projetos de excelência, com a garantia de aquisição de medicamentos, insumos e materiais", pontuou. O texto que elaborou para o PL 2.583/19 está pronto para ser pautado na Comissão de Seguridade Social e Família, que o deputado preside.
Dr. Luizinho indicou que a pandemia mostrou que o Brasil precisa se preparar e aprender lições. A covid-19 fez o país sofrer com o atraso no recebimento de insumos para a produção da vacina; com a crise de oferta de insumos, como a do oxigênio, em Manaus, em janeiro deste ano; e até mesmo com a baixa disponibilidade de equipamentos de proteção individual — como álcool, luvas e máscaras de proteção, cujos preços dispararam no começo da pandemia.
"Países como China e Índia, em momentos de dificuldade, retêm os insumos e atendem quem eles querem. O Brasil precisa de autonomia nessa área", apontou. O deputado salientou, ainda, que o país precisa rever o marco legal da pesquisa clínica. "O Brasil recebe menos pesquisas clínicas do que a Argentina", lamentou.
Nesta pandemia, o país desenvolveu pesquisas das vacinas contra a covid-19 para tentar enfrentar a transmissão descontrolada do vírus que se viu até abril passado.