O julgamento de quatro réus pelo crime de homicídio no incêndio da Boate Kiss em Santa Maria (RS), em janeiro de 2013, se estendeu durante o fim de semana. Ontem, o ex-proprietário do estabelecimento Thiago Mutti abriu as oitivas.
O Ministério Público questionou a condição do depoente, que responde a um processo por falsidade ideológica relacionado à boate. Por esse motivo, Mutti falou à corte na condição de informante.
O segundo depoimento foi prestado por uma das vítimas da tragédia, Delvani Brondani Rosso. Até agora, já foram ouvidos oito sobreviventes e quatro testemunhas, além de Thiago Mutti.
No sábado, a sobrevivente Cristiane dos Santos Clavé, que perdeu 15 amigos na noite do incêndio, prestou depoimento. Ela disse que estava de frente para o palco e viu dois fogos de artifício presos no chão durante o show da Banda Gurizada Fandangueira. Ao ver fumaça, sentiu uma falta de ar muito forte e saiu do local para respirar melhor, desviando de várias pessoas que começaram a correr e a se empurrar.
"A fumaça se espalhou rápido e chegou primeiro que eu lá na frente. Estava muito quente, era como o vapor de uma panela", destacou. Por estar próxima à porta de saída, conseguiu deixar a boate.
"Parecia uma cena de horror", disse sobre o cenário já de fora da boate. "Passava por cima dos corpos", lembrou. Sobre o amigo Leandro, (de apelido Chupa), que morreu no dia e foi encontrado próximo ao banheiro, ela afirmou que "tenho certeza que ele achou que ali era a saída".
Ao ser perguntada pelo juiz sobre o sentimento ao prestar depoimento, Cristiane disse que fazia isso em memória dos amigos.
São réus no processo Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann, proprietários do estabelecimento, o vocalista da banda Marcelo de Jesus dos Santos e o produtor musical Luciano Bonilha Leão.