JUSTIÇA

Quarto dia de júri da tragédia na Kiss

Seguiu, durante o sábado, o julgamento dos quatro réus indiciados pelo incêndio na Boate Kiss. O Tribunal do Júri ouviu três testemunhas, sendo uma arrolada pela defesa de Elissandro Spohr, ex-sócio da boate, e as demais, dois sobreviventes do incêndio ocorrido em Santa Maria, na região central do Rio Grande do Sul, em janeiro de 2013.

A primeira testemunha foi o produtor musical Alexandre Marques, da banda Multiplay, que fazia regularmente apresentações na Kiss. Ele não estava no local na noite da tragédia. O produtor relatou que, quando a banda foi contratada para se apresentar na boate, chegou a questionar se poderia fazer uso de artefatos semelhantes ao utilizado pela Gurizada Fandangueira. A resposta ao pedido foi negativa."Foi por isso que aceitei ser testemunha. Porque comigo houve uma negativa sobre usar o equipamento. E depois, na mídia, Elissandro alegou que não sabia que seria usado pela banda naquela noite", defendeu.

Ainda de acordo com o produtor, a tragédia se deu por uma sucessão de erros. "Não foi a espuma, foi uma conjunção de erros. Mas o maior foi acender (o artefato) e erguer para cima, na minha visão", disse.

A segunda testemunha foi o sobrevivente Maike Adriel dos Santos, 29 anos. Ele estava na casa a convite da amiga Andrielle Righi da Silva, que fazia aniversário na semana do ocorrido. A jovem não sobreviveu. Maike contou que estava distante do palco no momento em que o fogo começou. "Lembro que olhei pra cima e vi uma fumaça, que eu confundi com gelo seco. Logo ouvi as pessoas falando "sai, sai" e alguém dizendo que era fogo", relembra. O sobrevivente chegou a ficar 25 dias no hospital. Os primeiros, em coma induzido, por conta da gravidade do quadro. Maike era estudante do curso de Desenho Industrial da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Em seguida, prestou depoimento Cristiane dos Santos Clavé, 34 anos, frequentadora da boate. Ela relatou que o fato de conhecer o interior do local foi essencial para que encontrasse a saída. Cristiane recordou que voltava do banheiro quando o incêndio começou.

Questionada pelo juiz se teve sequelas, Cristiane abre uma pequena bolsa de remédios e mostra. "Por fora eu não tenho nada, mas meu pulmão queimou. Eu uso tudo isso aqui de remédios, todos os dias". Dentre os medicamentos, ansiolíticos e comprimidos para o tratamento de asma. A sobrevivente relata que falar sobre o incêndio não é tarefa fácil. "Deixei meus filhos em casa, estou aqui desde terça-feira, mas é para falar por quem não pode mais falar", diz, emocionada. "Tenho certeza que muita gente morreu sem saber o que estava acontecendo. Se tivessem falado no microfone, todo mundo saberia".